Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A cobertura de uma tragédia recorrente

A cobertura do massacre em uma escola primária em Newtown, no estado americano de Connecticut, na sexta-feira (14/12), foi depressivamente familiar. Os primeiros relatos do episódio surgiram no Twitter. Em seguida, emissoras locais interromperam a programação para dar boletins de última hora. Com a situação ficando pior, canais a cabo voltaram-se para Newtown.

A cada tuíte, o número de mortos aumentava, chegando a 26, sendo 20 de crianças de 6 a 7 anos. O tema do controle da venda de armas voltou a ser debatido na maior parte das emissoras de TV. Também começaram a ser preparados programas especiais na NBC e na ABC.

Muitas organizações de mídia, aparentemente usando informações equivocadas fornecidas por fontes legais, chegaram a publicar matérias conflitantes sobre a identidade do suposto atirador por trás do massacre. Começando pela CNN, os veículos inicialmente divulgaram que o homem que assassinou pelo menos 26 pessoas chamava-se Ryan Lanza. No entanto, algumas horas mais tarde esses veículos tiveram que retificar a identificação. O New York Post e a Fox News foram os primeiros a divulgar que Adam Lanza, irmão de Ryan, era o suposto atirador. Seguiram-se a eles a CNN, a CBS, a Associated Press e o New York Times.

Também houve informações de que Adam poderia estar usando a carteira de identidade de Ryan. Uma estação local da CBS colocou no ar o que dizia ser Ryan Lanza sendo levado, algemado, embora enfatizasse que ele seria apenas ouvido.

Antes desses acontecimentos, vários sites de notícias – entre os quais The Huffington Post, BuzzFeed, Gawker, Mediaite, Slate e Fox News – fizeram um link com o perfil de alguém no Facebook chamado Ryan Lanza dizendo que ele era, ou parecia ser, o atirador. Lanza, no entanto, pôs fim rapidamente às especulações entrando na sua página do Facebook depois que começaram a atacá-lo de todos os lados. Ele respondeu aos críticos dizendo que não era ele – que estava trabalhando quando ocorrera o tiroteio – mas sua foto e seu perfil já se tinham disseminado pela internet como os do atirador. Também no Twitter, foi identificado equivocadamente um Ryan Lanza. “Então [aparentemente], estou sendo vítima de spams porque alguém com o mesmo nome que eu matou umas pessoas? P.Q.P.”, escreveu.

O site BuzzFeed retirou a matéria “Primeira possível foto de suspeito de ser atirador em Sandy Hook” depois que ficou claro que o site identificara a pessoa errada. Sites como Slate e The Huffington Post atualizaram as matérias e reconheceram o erro.

Entrevistas com crianças

Crianças de 5 e 6 anos foram testemunhas primárias do crime e levantou-se a questão se era apropriado entrevistá-las. A maioria dos veículos de comunicação o fez, mas com precauções. Grande parte da mídia tem políticas escritas ou informais que aconselha seus repórteres a evitar entrevistar qualquer criança sem o consentimento explícito de um adulto guardião, embora não esteja claro se isso ocorreu em Newtown. O protocolo usual é entrevistar uma criança na presença de seu pai, mãe ou guardião. Alguns veículos vão além, como a NPR, aconselhando seus jornalistas a obter a permissão dos pais por escrito ou gravado antes de entrevistar uma criança.

Em todo o mundo, jornais descreveram o horror com uma única palavra como “Terror”, “Por quê?”, “Agonia”, “Atrocidade”. Desde o massacre em um cinema em Aurora, no Colorado, houve um movimento silencioso para minimizar menções do assassino e para lembrar as vítimas. Confira as primeiras capas de jornais aqui e neste link.

Informações deJack Mirkinson e Rebecca Shapiro[The Huffington Post, 14/12/12], do Huffington Post [15/12/12], de Julie Moos [Poynter, 15/12/12] e de Paul Farhi [The Washington Post, 15/12/12].