Friday, 15 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

A crise que não chegou aos jornais

Em meio à tendência mundial de migração dos leitores e anunciantes dos jornais para a internet, nos últimos anos, a Alemanha conseguiu se manter como um bastião do impresso. Mais de 72% dos alemães acima dos 14 anos leem jornais regularmente, de acordo com a Federação de Editores de Jornais do país.

Por isso foi uma surpresa quando, no fim do ano passado, sinais de problemas apareceram em algumas organizações de mídia. Em outubro, a agência de notícias DAPD declarou falência. No mês seguinte, o Frankfurter Rundschau, um dos primeiros diários publicados na Alemanha ocupada após a Segunda Guerra Mundial, foi pelo mesmo caminho. Em dezembro, o Financial Times Deutschland encerrou suas operações.

Estaria a indústria de jornais alemã começando a entrar em crise? A internet custou mais a “pegar” na Alemanha do que em outros países. A publicidade já começou a diminuir no jornais. Falta saber como se comportarão os leitores.

“Eu ficaria muito surpreso se não houvesse crise”, diz Norbert Bolz, professor de ciências da mídia na Universidade Técnica de Berlim. “Há uma crise estrutural. Mas eu tenho que dizer, honestamente, que fico surpreso com o sucesso como a grande mídia lida com isso”, ressalta.

Analistas concordam, e veem os casos de pedido de falência e fechamentos de jornais do ano passado como episódios isolados provocados por fatores particulares de cada empresa, e não como uma tendência nacional.

Nada grave

É claro que a queda de anúncios nos impressos afetou os jornais alemães, mas eles vêm conseguindo compensar as perdas com o aumento do preço de capa. De maneira geral, a receita dos jornais no ano passado foi baixa, mas nada comparado à situação da imprensa em outros países. Curiosamente, o número de jornais na Alemanha aumentou em 2012.

Este mês, em uma tentativa de conter maiores declínios na receita publicitária, as editoras de quatro jornais nacionais – Handelsblatt, Frankfurter Allgemeine Zeitung, Süddeutsche Zeitung e Die Zeit – formaram uma aliança. As editoras conseguiram convencer o governo a introduzir uma legislação que permite a cobrança de pagamento de ferramentas de busca como o Google e agregadores de notícias que usarem conteúdo dos jornais. Para analistas, o sucesso do lobby confirma o grande poder de influência das editoras no país.

Assim, os problemas no Frankfurter Rundschau, no FT Deutschland e na DAPD não são um indicativo de um mercado impresso à beira da morte, avalia o pesquisador de mídia Steffen Burkhardt, da Universidade de Hamburgo. “As editoras na Alemanha estão em uma situação fantástica se comparadas a editoras em outros mercados”.