O americano Chris Hughes, 29 anos, é cofundador do Facebook e ex-conselheiro de campanha online do presidente americano Barack Obama. Em março de 2012, o jovem Hughes abraçou mais um projeto: comprou a revista políticaThe New Republic com o objetivo de revigorá-la. Segundo o editor Franklin Foer, de 38 anos, o novo dono está energizando a publicação. “Ele realmente pensa a revista como uma start-up, e isso é divertido”, resume.
Recentemente, leitores puderam ver os frutos do investimento de Hughes: a revista impressa, o site e o aplicativo estão de cara nova. A revista traz um misto amplo de reportagem política e o que Hughes descreve como “o alto e o baixo no mundo artístico”. Ele garante que a publicação continuará a trazer críticas de arte e resenhas de livros, mas vai passar a cobrir temas como música eletrônica e séries de TV moderninhas, como o sucesso Girls, da HBO.
Diversidade
A primeira edição com esse novo olhar reflete o esforço para oferecer um conteúdo mais diverso. Há uma entrevista com Obama; um artigo de Walter Kirn, autor do livro Up in the Air (que deu origem ao filme Amor sem escalas), sobre seu uso pessoal de armas; e outro de Judith Shulevitz, ex-editora da revista Lingua Franca e do site Slate, sobre por que uma sociedade precisa de avós.
Uma nova seção, batizada de “Da estante”, terá artigos antigos de colaboradores do passado; o da primeira edição é de Edmund Wilson, sobre a cerimônia de posse de Franklin Roosevelt. As críticas de livros foram repaginadas.
Tradição e modernidade
O aplicativo e o site têm novas ferramentas, como versões dos textos em áudio e a possibilidade de os leitores começarem a ler artigos em uma plataforma e continuarem em outra, no ponto onde pararam. “Estamos respeitando a herança da revista e tentando fazê-la mais adequada ao que as pessoas estão interessadas e como elas leem em 2013”, disse Hughes.
Nos bastidores, Hughes e Foer tentam adequar a rica história da revista fundada em 1914 à modernidade da mídia multiplataforma. Do passado, eles não apenas incorporaram os artigos da seção “Da estante”, como também recontrataram um editor de longa data, Michael Kinsley, para fazer uma série de perfis. A equipe da New Republic dobrou de tamanho. Hughes também abriu uma sucursal em Nova York e contratou o primeiro departamento de arte interno da revista.
Segundo Foer, Hughes transformou, de maneira hábil, a forma de atuar da revista quinzenal, com editores virando noite para cumprir o deadline, em um sistema mais organizado no qual artigos são planejados com semanas de antecedência. Também foram acrescentadas vozes femininas à revista, como Julia Ioffe, ex-New Yorker, e Noreen Malone, ex-New York Magazine. Membros da equipe dizem que trabalhar para a revista remodelada os lembra de start-ups em que trabalharam anteriormente, como Slate e George, mas com a diferença do passado histórico da New Republic.
Há muito a ser feito no que se refere à gestão de negócios. Em novembro, Hughes contratou um diretor de publicidade e mudou a maior parte do setor para Nova York. Mas a tiragem, por exemplo, deve ser atualizada, pois deixou de ser auditada pelos antigos proprietários em 2005. Desde a compra da revista, há quase um ano, as assinaturas subiram de 34 mil para pouco mais de 44 mil. Em seu auge, em 1993, esse número chegou a mais de 102 mil. A venda em banca cresceu 68% nas últimas cinco edições, para uma média de 1.738 cópias. A experiência de Hughes na campanha de Obama e no Facebook ajudou a ampliar a presença da New Republic nas redes sociais; ela ganhou 31% a mais de fãs no Facebook e 93% a mais de seguidores no Twitter.
Apesar dos sinais de progresso, a estrada para a lucratividade ainda é incerta. O fim da edição impressa da Newsweek no ano passado é um lembrete do quão difícil pode ser manter o interesse nas revistas para que elas possam sobreviver. Hughes, que deixou o Facebook com uma fortuna estimada em centenas de milhões de dólares, quer que a New Republic possa se tornar, um dia, lucrativa. “A era de grandes margens para empresas de mídia no século 20 provavelmente acabou, mas isso não significa que os consumidores não querem pagar por conteúdo. Vai levar alguns anos, mas a rentabilidade é o nosso objetivo”, disse.
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