O papel do venezuelano Hugo Chávez como líder da esquerda antidemocrática na América Latina pode ser substituído por um de seus discípulos. Com o mistério sobre a gravidade da doença do presidente – com direito a dois meses sem comunicação em um hospital militar cubano e a viagem para casa na calada da noite –, não se sabe se ele voltará a comandar o país.
Rafael Correa, o presidente do Equador, parece ser o líder mais indicado a ocupar a figura política de Chávez no continente. Recentemente, Correa comemorou o resultado das eleições de seu país: continuará no cargo até 2017. Assim como a própria reeleição de Chávez em outubro, a vitória de Correa foi facilitada. Seguindo o líder venezuelano, o presidente equatoriano ganhou votos gastando bilhões da receita de petróleo em uma farra insustentável.
Ainda mais do que Chávez, Correa transformou a mídia do Equador em seu próprio aparato de propaganda. Seu governo, que herdou uma estação de rádio em 2007, hoje controla cinco canais de TV, dois deles confiscados de donos privados, quatro estações de rádio, dois jornais e quatro revistas. Se isso não fosse suficiente, o presidente regularmente utiliza uma lei que o permite comandar as ondas de rádio nacionais a qualquer momento, por qualquer motivo.
Cobertura pálida
Além disso, Correa silenciou a mídia independente do Equador. Desde maio passado, o governo fechou 11 estações de rádio. Uma lei proibindo reportagens parciais sobre campanhas políticas e permitindo que candidatos insatisfeitos possam processar veículos por essas violações forçou a mídia a uma cobertura reduzida e pálida, de acordo com um relatório do Comitê para a Proteção dos Jornalistas.
Jornalistas que tentam se opor a Correa são forçados a pagar pela ousadia. Uma revista que pediu votos contra o referendo que permitiria ao governo mais controle sobre a mídia foi multada em cerca de 160 mil reais por violar a lei contra propaganda eleitoral. Ano passado, o grupo Fundamedios registrou 173 atos de agressão a jornalistas, incluindo um assassinato e 13 ataques.
Passada a reeleição, Correa claramente pretende seguir com sua cruzada antimídia. Ele defende a criação de uma nova lei que pode estabelecer uma comissão para supervisionar a imprensa equatoriana, impondo multas e outras punições. O presidente também pressiona a Organização dos Estados Americanos para repreender seu relator sobre liberdade de imprensa, que, sem surpresas, criticou a atual situação do Equador.