Foi divulgada, na semana passada (20/3), a 10ª edição do relatório The State of the News Media, que analisa de forma extensa a atuação do jornalismo nos EUA no ano anterior. O estudo é conduzido pelo Pew Research Center, organização não partidária de pesquisas com sede em Washington.
Logo de partida, a situação da mídia americana – em avaliação feita sobre o ano passado – não parece muito boa. “Em 2012, uma continuada erosão dos recursos jornalísticos convergiram com o crescimento das oportunidades para que políticos, agências governamentais, empresas e outros enviassem mensagens diretamente ao público”, começa o estudo. “Sinais do encolhimento do poder do jornalismo estão documentados no relatório deste ano”.
A pesquisa identificou seis grandes tendências na mídia americana:
>>Os efeitos de uma década de cortes nas redações já são notados pelo público.
>>A indústria jornalística continua a não tirar proveito da nova publicidade digital.
>>Há um crescimento acentuado nos – até então adormecidos – anúncios patrocinados.
>>O aumento de conteúdo digital pago pode vir a ter impacto significativo na receita e no conteúdo jornalísticos.
>>A TV local encontra-se em uma (nova) posição vulnerável.
>>O compartilhamento de notícias por amigos e parentes nas redes sociais leva a um aumento do consumo de notícias.
Cortes e mais cortes
Os cortes nas redações em 2012 provocaram uma diminuição de 30% no tamanho da indústria em comparação ao seu auge, em 2000. Pela primeira vez desde 1978, havia no ano passado menos de 40 mil profissionais de mídia trabalhando em tempo integral nos EUA. Veículos voltados a públicos específicos tiveram que fazer cortes drásticos, como o jornal Chicago Defender, dedicado à comunidade negra, que reduziu sua equipe editorial a apenas quatro funcionários. Nos grandes veículos impressos a situação não é melhor. A Time – última revista noticiosa semanal dos EUA – cortou 5% de sua equipe no início de 2013.
Nas emissoras de TV locais, esportes, previsão do tempo e informações de tráfego agora contam, em média, por 40% do conteúdo produzido para telejornais, enquanto houve queda na duração das notícias. Nos canais de notícias a cabo, a cobertura de eventos ao vivo caiu 30% de 2007 a 2012, enquanto as entrevistas, que precisam de menos recursos e podem ser marcadas com antecedência, aumentaram em 31%.
É cada vez maior a lista de veículos – como a revista Forbes, por exemplo – que fazem uso de tecnologia para produzir conteúdo por algoritmos, sem a necessidade de trabalho humano. E algumas das celebradas iniciativas de veículos colaborativos sem fins lucrativos, como a Chicago News Cooperative, já encerraram suas atividades.
Na rede, sem filtro
O público nota os problemas de uma indústria cada vez menos equipada e mais despreparada. Pelo menos 31% dos entrevistados em uma pesquisa que acompanha o estudo disseram já ter deixado de consumir algum veículo jornalístico por considerar que não fornecia mais a quantidade e qualidade de notícias aos quais estavam acostumados.
Por outro lado, cresce o número de pessoas adeptas às redes sociais que compartilham e consomem informação sem o filtro da mídia tradicional. Até agora, esta tendência é especialmente clara na esfera política – particularmente na eleição presidencial de 2012. Uma análise do Pew Research Center concluiu que os repórteres que cobriram a campanha do ano passado agiram mais como megafones das afirmações dos candidatos do que como jornalistas investigativos. Além disso, os partidos políticos encontraram mais maneiras de se conectar diretamente aos eleitores.
Além da arena política, cada vez mais instituições têm investido na implementação da comunicação com seu público. Empresários de Detroit, por exemplo, criaram uma organização para servir como um tipo de guia para jornalistas com o objetivo de melhorar a cobertura da cidade.
Há, ainda, cada vez mais ações que mesclam publicidade e jornalismo. Grandes organizações de notícias, incluindo a agência Associated Press, divulgaram recentemente um press release falso sobre o Google produzido por uma empresa de relações públicas que promete aos clientes acesso aos principais veículos de mídia.
Há uma empresa que conecta milhares de jornalistas a marcas comerciais para ajudá-las a produzir seu próprio conteúdo. Este ano, a revista Fortune lançou um programa para anunciantes chamado de Fortune Trusted Original Content (Conteúdo Original Confiável da Fortune), em que redatores da revista criam, por uma taxa, conteúdo editorial para que empresas distribuam em suas próprias plataformas.
Resumo
A edição do State of the News Media 2013 traz um relatóriosobre as mudanças no telejornalismo; um vídeosobre as lições da eleição de 2012; uma pesquisade opinião sobre como as pessoas consomem notícias vindas de amigos e parentes; uma pesquisaespecial sobre o conhecimento do público sobre os problemas financeiros que atingem a indústria jornalística; e uma análiseda mídia voltada à comunidade negra dos EUA.