O destino do fundador do WikiLeaks, o jornalista e ciberativista Julian Assange, há mais de um ano refugiado na embaixada equatoriana em Londres, parece estar longe de ser solucionado. O ministro das Relações Exteriores do Equador, Ricardo Patiño, encontrou-sena semana passada com o ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, William Hague, por 45 minutos, mas não se chegou a um acordo diplomático. Assange buscou asilopolítico na embaixada para evitar ser extraditado para a Suécia, onde enfrenta acusação de assédio sexual. Ele teme que a Suécia o mande para os EUA, onde pode ser julgado por espionagem.
Assange ganhou atenção internacional em 2010, quando seu site divulgou uma grande quantidade de telegramas diplomáticos e documentos militares secretos, enfurecendo o governo americano. O soldado Bradley Manning está atualmente em julgamento acusado de ter fornecido grande parte do material secreto ao WikiLeaks.
Policiamento constante
Em declaração, o governo britânico disse que um grupo de trabalho será formado para encontrar uma solução, mas “nenhum progresso substancial foi feito”. Mesmo estando preso dentro da embaixada, Assange continua ativo no WikiLeaks – no último ano, o site publicou um grande volume de documentos, incluindo um sistema de busca de registros de inteligência dos anos 70 e 2,4 milhões de e-mails relacionados à Síria. Conectado ao mundo via videolink e internet, Assange frequentemente comenta assuntos atuais, como a história de Edward Snowden, ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional americana que vazou informações sobre o programa de monitoramento do governo; e por que australianos devem votar no Partido Comunista nas próximas eleições.
Algumas vezes, Assange faz uma pausa no trabalho para olhar pela janela uma pequena audiência que lhe oferece apoio do lado de fora da embaixada – juntamente com policiais de plantão. O custo de ter policiamento constante no local, com equipe para prender o ciberativista no minuto em que ele sair da embaixada, já passou dos R$ 11 milhões.
Figura controversa
Assange permanece uma figura polêmica e alguns ex-aliados chegaram a retirar o apoio a ele, como a ativista e jornalista Jemima Khan, que publicou um artigode capa na revista New Statesmen, este ano, explicando por que suas opiniões mudaram de “admiração para desmoralização”. “A causa nobre de Assange e seu desejo de evitar a corte americana não supera o direito [das mulheres suecas que o acusam de assédio sexual] de ser ouvidas em uma corte sueca”, afirmou ela. Já a cantora Lady Gaga e o diretor de cinema Oliver Stone visitaram Assange na embaixada e tuitaram fotos com ele.
Em entrevista à al-Jazira, Assange disse que ficaria “razoavelmente surpreso” se o impasse na embaixada não for resolvido dentro de dois anos. Ele diz que iria para a Suécia se recebesse garantia de não ser deportado para os EUA. De acordo com a advogada Rebecca Hill, especialista em extradição, o impasse pode continuar infinitamente. “Não consigo imaginar autoridades suecas retirando seu pedido nem uma circunstância na qual as cortes britânicas revisem a ordem de extradição. Então cabe a ele decidir quanto tempo tolerará isso”, opina. Até Assange procurar a embaixada equatoriana, Reino Unido e Equador tinham uma relação diplomática perfeitamente amigável, avalia Victor Bulmer-Thomas, especialista em América Latina no instituto Chatham House. Agora, segundo ele, a relação ainda é correta, porém fria. A provável solução seria um acordo que permitisse salvar a aparência do Equador, como o governo britânico oferecendo garantias via Suécia de que Assange não seria deportado para os EUA.