Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Conglomerados se desmembram para atrair investidores

A News Corporation, fundada pelo bilionário Rupert Murdoch, está se dividindo em duas. Um novo grupo, chamado 21st Century Fox, será criado para os lucrativos bens em televisão e cinema. O resto da News Corp unirá os jornais e outros negócios menos lucrativos.

O grupo não é o único grande conglomerado de mídia que segue esse caminho. A Time Warner está desmembrando a Time Inc, sua divisão de revistas. O grupo francês Vivendi está se livrando de seus bens em telecomunicações para se especializar em entretenimento. A Pearson também vendeu várias de suas propriedades para se concentrar no mercado educacional.

O livro Curse of the Mogul(A Maldição do Magnata), de 2009, atribuía o mau desempenho dos conglomerados de mídia ao apetite de seus donos por poder e visibilidade. A propensão para compras grandes e burras prejudicou investidores: a fusão da AOL com a Time Warner e a compra da Dow Jones pela News Corp são dois exemplos. Entre 1995 e 2005, quatro grandes conglomerados – News Corp, Viacom, Disney e Time Warner – produziram em conjunto um terço da receita média para firmas no índice S&P 500.

Mudança de comportamento

Mais recentemente, no entanto, as empresas têm brilhado. No último mês, as ações de algumas firmas bateram recorde e, nos últimos cinco anos, News Corp, Viacom, Disney e Time Warner retornaram, cada uma, ao dobro da média presente no índice S&P 500. Parte disso ocorreu graças ao abrandamento da ameaça da Netflix e de outros perturbadores do mercado televisivo. Mas parte se deu pela mudança de comportamento dos donos dos conglomerados de mídia.

Na maior parte dos negócios, os conglomerados entraram em declínio após a década de 80. Mas os magnatas do setor de mídia demoraram décadas para seguir a tendência. A recente venda de bens não essenciais ajudou a convencer os investidores desconfiados. “Os investidores gostam de ter um negócio que podem compreender”, diz Philippe Dauman, chefe da Viacom, que separou seus negócios televisivos em uma outra empresa, a CBS Corporation, em 2006. A maior parte dos investidores hoje vê que emissoras de televisão, gravadoras de música e empresas do tipo ganham pouco valor compartilhando outros negócios. A proximidade entre negócios pode até prejudicar o desempenho administrativo.

Cada empresa possui seus motivos para o descarregamento de negócios, mas existem temas em comum. Investidores estão cada vez mais céticos de que criadores de conteúdo e de hardware devam estar juntos. Dan Loeb, administrador de um fundo multimercado, elevou sua participação na Sony e está pressionando para separar os negócios midiáticos dos eletrônicos.

Outro grande motivo é o mau humor do mercado editorial. Os magnatas da mídia querem focar no alto crescimento televisivo, como a Time Warner, ou se livrar do peso de negócios que os distraem, como a New York Times Company está fazendo ao vender o Boston Globe.

Nova geração

Quando o mercado americano quebrou em 2008, companhias de mídia foram duramente afetadas e precisaram de lideranças disciplinadas. Apesar de Murdoch, com 82 anos, aparentar poucos sinais de querer sair dos holofotes em breve, surge uma nova geração de magnatas, que são menos exagerados que seus predecessores e mais interessado em dinheiro do que em poder e influência. Robert Thomson, chefe da nova News Corp, promete incansáveis cortes de custos.

Em muitos casos, os conglomerados de mídia estão se segurando em suas emissoras de TV a cabo. Após se desfazer de sua unidade de revistas, 80% dos lucros da Time Warner virão das emissoras. Mais de 90% dos lucros da Viacom também vêm de seus canais de TV.

Por enquanto, investidores gostam deste caminho. A ascensão da Netflix, do Hulu e outros serviços de vídeo online causou poucos danos ao modelo de negócios televisivo. Mas, caso isso mude, a falta de diversificação pode se tornar uma deficiência.

Contra a corrente

Algumas empresas ainda contrariam essa tendência. Em 2011, a Comcast, operadora de TV a cabo, comprou a NBC Universal, companhia de conteúdo audiovisual, e se tornou o segundo maior grupo de mídia do mundo. A Disney, maior conglomerado do ramo, além de comprar a Lucasfilm, também comprou a UTV, empresa de mídia indiana.

Rumores dizem que a Time Warner Cable e a Charter Communications, duas operadoras de TV a cabo, estão discutindo uma fusão. A Gannett, dona de diversos jornais e canais de TV americanos, irá se fundir com a Belo, empresa homóloga, para expandir seus mercados e depender menos de jornais. O crescente preço das ações desses gigantes de mídia tornará cada vez mais fácil que eles engulam empresas menores.