Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Livro defende obrigação moral da mídia no país

Um novo livro sobre a Índia, An Uncertain Glory: India and Its Contradictions (Uma Glória Incerta: Índia e suas Contradições, tradução livre), aborda, dentre outras questões, como a mídia – em especial as publicações em inglês voltadas para leitores de maior poder aquisitivo – não é interessada como deveria nas questões sociais do país.

Seus autores, os economistas Jean Drèze, cidadão indiano de origem belga, e Amartya Sen, que recebeu o Nobel em ciências econômicas em 1998, também argumentam que a Índia não fez o suficiente pelos pobres e que isso é moral e economicamente inaceitável; que deveria gastar mais com os pobres; e que a hipótese que tais gastos impediriam o crescimento é uma ilusão de uma classe média egocêntrica. “O vigor da mídia indiana não está em dúvida, mas suas inadequações são grandes no que se refere a alcance, cobertura e foco em notícias, opiniões, perspectivas – e entretenimento”, escrevem os autores, que destacam a palavra “entretenimento” em uma reprimenda a editores que consideram que filmes e jogos de críquete merecem cobertura em um país no qual muitas pessoas passam fome.

Essa não é uma linha nova de críticas. Ser engajado não é considerado uma virtude no jornalismo e na nação empobrecida. “Há muitas contradições complexas que podem ser detectadas, mas é óbvia uma séria falta de interesse na vida dos pobres, julgando pelo equilíbrio da seleção de notícias e da análise política na mídia indiana”, obsevaram os economistas.

Perspectiva socialista

Alguns editores argumentam que usam o entretenimento para atrair audiência para assuntos mais sérios – notícias e páginas editoriais. O leitor médio de um jornal indiano não é essencialmente uma pessoa insensível. Ele já viu a miséria de seu país de perto e é difícil tocá-lo por meio de métodos jornalísticos. Na maior parte, ele prefere o alívio da leveza.

A imprensa indiana é excepcionalmente influente por ser relevante ao leitor, por mantê-lo interessado. Recentemente, a mídia, por meio de persistência e puro teatro – certamente não por meio de reportagem sóbria –, inspirou protestos de massa que mexeram com políticos do país. Os autores do livro são sensíveis a isso, mas também apontam que essas manifestações foram inspiradas por preocupações da classe média: a corrupção política e a segurança de mulheres que moram nas áreas urbanas. Eles alegam que, na realidade, é lamentável que a mídia indiana não tenha uma atitude socialista. Os economistas gostariam que a mídia não comemorasse o crescimento de poucos, mas que lamentasse as misérias de muitos.

O livro é uma análise da Índia moderna a partir de uma perspectiva socialista. Na realidade, os autores alegam que o socialismo não pode ser considerado responsável pelas falhas da Índia porque o país nunca foi uma república socialista, como é amplamente conhecido. Mas eles reconhecem que “as interpretações do socialismo são muitas e variadas”. Uma delas é que o socialismo deu errado em algum lugar, não é mais socialismo. Não é surpreendente que uma grande razão para o desencanto dos autores com a mídia é a existência de jornalistas que condenam os gastos massivos do país para a erradicação da pobreza – que, historicamente, deram pouco resultado. Os economistas são claros quando observam que a mídia distorce as notícias e análises a favor de empresas, políticos e dos ricos. De fato, a maior crise enfrentada pela mídia indiana não ocorre por ela ser leve e populista, mas por não ser mais considerada confiável por muitos de seus próprios consumidores.