Talvez a histeria sobre a edição de agostoda Rolling Stone tenha sido induzida por uma onda de calor. Essa é a única explicação caridosa para o estouro da boiada de críticos que vêm acusando os editores da Rolling Stone de tentarem transformar Dzhokhar Tsarnaev, acusado de ser o responsável pelas bombas na maratona de Boston, numa estrela de rock simplesmente por terem posto sua foto na capa da edição. (Esqueçam a palavra “monstro”, em letras garrafais.)
A persistência das acusações tornou-se tão frenética que as farmácias Walgreens e CVS e algumas outras lojas recusaram-sea vender a revista. O prefeito de Boston queixou-se de que “premiava um terrorista com um tratamento de celebridade”.
As lojas têm o direito de se recusarem a vender produtos que, digamos, não sejam saudáveis, como cigarros (que, êpa!, tanto a Walgreens quanto a CVS vendem). Os consumidores têm todo o direito de evitar comprar uma revista que os ofende, como a Guns & Ammo(Armas e Munições) ou a Rolling Stone.
Mas escolher uma edição da revista para recusá-la como um todo é absurdo, principalmente porque a foto já foi publicada em inúmeros lugares importantes, inclusive na primeira páginadeste jornal, sem gritaria alguma. Como qualquer leitor medianamente experiente sabe, as capas das revistas não significam apoio a opiniões.
A revista Time, por exemplo, teve várias capas com a foto de Adolf Hitler durante os anos da guerra. Menos de um mês após os ataques de 11 de setembro de 2001, a mesma Time publicou uma foto nada demoníaca de Osama bin Laden. Charles Manson apareceu na capa da Rolling Stone há quarenta e poucos anos para uma entrevista que deu na cadeia que era tão assustadora quanto reveladora. E a lista poderia continuar.
O longo artigode Janet Reitman mostra como um rapaz descrito pelos amigos como “um garoto americano normal” pôde enveredar pelo mau caminho. E o título da capa, em letras grandes e em negrito, diz: “Como um estudante popular e promissor que perdeu o apoio da família virou-se para o islamismo radical e tornou-se um monstro”.
Uma coisa parece definitiva, em relação à capa com Tsarnaev. Graças à gritaria nas redes sociais e às reações de uns poucos e tímidos comerciantes, essa edição da Rolling Stone deve vender muito bem.