Muito se especula sobre o futuro do jornalismo. Questões sobre o modelo de negócios ideal são cada vez mais presentes para veículos de comunicação que enfrentam cada vez mais cortes de custos. O problema principal é como sobreviver e como se adaptar a todas às mudanças provocadas pelo surgimento da internet – e, por consequência, da ideia do conteúdo gratuito.
Em artigo no blog Bits, do New York Times, Nick Bilton analisa dois modelos de distribuição de jornalismo na internet. Business Insider e NSFWCorp são sites que adotaram abordagens distintas para fornecer conteúdo a seus leitores. O gancho do artigo de Bilton foi um perfil da executiva-chefe do Yahoo, Marissa Mayer, publicado no Business Insider. O texto, intitulado “A verdade sobre Marissa Mayer – uma biografia não autorizada”, era enorme: 22 mil palavras.
O jornalista Nicholas Carlson, autor do artigo, gastou meses dedicado a ele. Quando o Yahoo anunciou a entrada de Marissa na empresa, em 2012, houve um interesse súbito por ela. Na época, a executiva estava grávida, e prometia que a maternidade não afetaria sua nova função. Carlson diz que o site decidiu fazer um perfil dela por indicação indireta dos próprios leitores – a partir do número de page views e comentários em artigos sobres o assunto.
Jornalismo gratuito, com qualidade
Mas, assim que foi publicado o texto, logo a blogosfera especializada em tecnologia passou a se perguntar: por que o Business Insider não embrulhou o longo perfil em formato de e-book e cobrou por ele? Para que dar de graça conteúdo que demandou tanto trabalho?
“Para nós, a decisão é investir no negócio online gratuito, onde podemos criar algo ótimo para nossos leitores”, diz Carlson. Esta abordagem, afirma ele, também é boa para os anunciantes, que têm seus produtos e serviços expostos ao lado de material de alta qualidade.
Henry Blodget, executivo-chefe do Business Insider, ecoa a declaração: “em vez de passar pela dificuldade de editar, publicar e vender a história como e-book, preferimos compartilhá-la com nossos leitores de uma única vez”.
A abordagem é o oposto de outra publicação digital, NSFWCorp, fundada pelo blogueiro Paul Carr, que define seu site como “jornalismo real e extenso, mas com piadas”. Em vez de distribuir seu conteúdo gratuitamente, Carr decidiu cobrar três dólares pelo acesso mensal ou sete dólares pela versão impressa. Com a ajuda de investidores e assinantes, o site emprega diversos redatores em tempo integral.
Sem vídeos de gatos
“Nós queríamos explorar o modelo de negócios online que permite grande jornalismo sem precisar apelar para vídeos de gatos”, alfineta Carr, já que o Business Insider traz, junto de artigos sobre negócios e economia, links variados para vídeos de entretenimento e listas de celebridades. “E não nos preocupamos sobre o que escrevemos. Podemos ofender 10 mil assinantes e continuar no negócio; se ofendêssemos apenas um anunciante, seríamos prejudicados”.
De longe, parece que os dois negócios funcionam, mas e o futuro?
Carr vê dois tipos diferentes de publicações online: algumas que dependem quase que exclusivamente do apoio de leitores e assinantes, como o site dele, e outras que dependem exclusivamente de publicidade, como o Business Insider. “Ambas se alimentam, como uma simbiose”, diz.
Mas ele ainda acredita que será difícil manter o jornalismo de longo formato com base apenas em receita publicitária. “Os anúncios são tão baratos que você precisa de um trilhão de visualizações para pagar por jornalismo verdadeiro, e você pode fazer isso com um vídeo de gato”.
Por enquanto, são poucos os veículos, como o Business Insider, que não veem problemas em colocar jornalismo “real” ao lado de vídeos de gatos e slideshows. Para Bilton, parece que o site fez certo ao não cobrar pela leitura do perfil de Marissa Mayer. O artigo foi compartilhado mais de 13 mil vezes no Facebook e 5,5 mil vezes no Twitter, gerando 900 mil visualizações na página emoldurada de anúncios. “Acho difícil cobrar por alguma coisa”, diz Carlson. “Como escritor, fiquei feliz em ir pelo caminho gratuito, porque sabia que muito mais gente leria que que escrevi”.