A internet ampliou o alcance das piadas com políticos. Algumas vezes, elas viajam tão longe que acabam sendo consideradas verdadeiras. Ano passado, o site americano The Onion, que faz humor com notícias falsas em formato jornalístico, elegeu o ditador norte-coreano Kim Jong-un “o mais sexy do mundo”. Um jornal chinês levou a indicação a sério e publicou um especial de 55 fotos para celebrar o acontecimento. Quando o Onion publicou uma enquete – claramente falsa – dizendo que a população rural branca ds EUA concordava mais com o então presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, do que com o presidente americano, Barack Obama, uma agência de notícias iraniana cobriu o assunto como se fosse real. No entanto, cada vez mais pessoas acessam o Onion por diversão, sem acreditar em suas mentiras. O tráfego de visitantes aumentou em 70% no ano passado.
Ao que se sabe, a sátira política existe desde a Grécia antiga, mas graças à internet e às mudanças políticas, hoje ela está por todo lado. Charges podem ser postadas online e alcançam milhões de pessoas sem precisar do intermédio de uma publicação tradicional. A web também tornou mais fácil aos humoristas políticos enganar censores e permanecer no anonimato. Não é conhecida, por exemplo, a identidade do editor do site de notícias satírico Pan-Arabia Enquirer, do Oriente Médio.
Patos e pinguins
Em regimes autoritários, imagens sutis, em vez de palavras, são uma forma comum de sátira. No 24º aniversário do massacre da Praça Tiananmen, em Pequim, a rede social chinesa Weibo foi inundada de fotos de patos de borracha em uma praça vazia. Elas se tornaram virais antes da intervenção de censores, que bloquearam a frase “patos amarelos” dos resultados de buscas online. Quando o canal da rede de notícias CNN na Turquia decidiu exibir um documentário sobre pinguins em vez de cobrir os protestos em Istambul, pinguins se espalharam pelas mídias sociais.
As novas tecnologias não são a única explicação para o sucesso da sátira. As atuais mudanças no cenário político mundial também ajudam. Zeynep Tufekci, professor da Universidade da Carolina do Norte, diz que a sátira está indo muito bem em países em que a liberdade de expressão é limitada, mas a repressão política não é severa o suficiente para destruir a habilidade de se comunicar com relativa liberdade. As mudanças no mundo árabe suscitaram uma leva de desenhos criativos e ousados. De acordo com Andrei Richter, do Instituto de Direito e Política de Moscou, a internet acabou deixando os políticos mais acostumados com as piadas sofridas por eles próprios, já que seus concorrentes também acabam virando alvos dos humoristas.
No entanto, muitos satiristas de países menos bem humorados, do Azerbaijão ao Zimbábue, lutam para se expressar. Eles são rotineiramente presos e ameaçados, diz Bro Russel, da Organização Internacional pelos Direitos de Cartunistas.
E por mais que a Internet tenha aumentado a quantidade de material satírico, ela também tornou difícil para que seus praticantes se sustentem integralmente disso. Isso atinge particularmente os cartunistas profissionais. Nos Estados Unidos, de dois mil cartunistas empregados em jornais em 1910, o número caiu para 40 um século mais tarde. Tjeerd Royaards, do Movimento Cartunista, diz que existem hoje mais cartunistas no mundo, cada vez mais trabalhando em meio período.
Graças à internet, estes profissionais passaram a enfrentar uma competição muito maior. Charlie Beckett, professor de mídia da London School of Economics, diz que os satiristas costumavam chocar as pessoas, mas perderam impacto nos dias de hoje. “Todos são rudes na internet”, resume.