Para onde o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, olha, vê conspiradores. Ao menos doze conspirações para assassiná-lo foram supostamente detectadas desde abril, quando o sucessor de Hugo Chávez tomou o poder. Recentemente, o presidente expulsou três diplomatas americanos do país por supostamente conspirar com a oposição e empresas para criar uma guerra econômica e derrubar o governo. No entanto, publicamente, a mídia de oposição é a principal suspeita de conspirar contra ele. “Sabemos exatamente que jornais estão preparando o golpe”, declarou Maduro no mês passado.
Conspirações midiáticas são o ponto mais importante da propaganda governamental desde 2002, quando Chávez foi brevemente retirado do poder. Isso levou o governo a adotar medidas para conseguir a chamada “hegemonia de mídia”. O governo expandiu vastamente a mídia estatal e gradualmente fechou ou comprou os veículos independentes que encontrou pelo caminho.
Um dos quatro canais de TV de oposição, o RCTV teve sua renovação de licença negada em 2007. As emissoras Venevisión e Televen evitaram o mesmo destino ao suavizar a cobertura e eliminar de suas grades programas controversos. A Globovisión, que dava grande apoio à oposição venezuelana, foi comprada por um empresário aliado ao governo após os antigos donos dizerem que o assédio oficial destruiu sua viabilidade financeira e jornalística.
No entanto, a “neutralização” da Globovisión não está acontecendo tão rápido quanto gostaria o presidente. No mês passado, um órgão regulador ameaçou o canal com uma pesada multa por fazer uma reportagem investigativa sobre a escassez de comida e outros produtos essenciais. Segundo Maduro, reportagens sobre a escassez são “propagandas de guerra”. O presidente pediu medidas especiais aos órgãos públicos e aos tribunais contra a cobertura midiática que cause “ansiedade desnecessária”.
Virou piada
O rádio também não vai bem. Em 2009, mais de 30 estações de rádio tiveram suas licenças revogadas; 24 foram relançadas como veículos pró-governo. A notícia de que mais de 200 rádios estavam sendo investigadas levou muitas delas a deixar o jornalismo de lado e se concentrar em entretenimento.
Jornais e revistas continuam a ser politicamente diversificados, apesar de sua circulação pequena. O governo ocasionalmente utilizou tribunais para multar ou censurar a imprensa. Muitos sobreviveram, mas enfrentam agora uma nova ameaça: a agência reguladora de câmbio passou a negar aos jornais os dólares necessários para a importação de papel. Meia dúzia de veículos regionais suspenderam sua publicação. Enquanto isso, a Assembleia Nacional aprovou 7,5 milhões de dólares para jornais pró-governo importarem o que precisam.
Uma das reclamações favoritas de Maduro é de que a mídia “censura” as conquistas do governo e exagera as más notícias. Assim como Chávez, morto em março, o novo líder frequentemente obriga canais de rádio e TV a transmitir suas mensagens ao vivo. Ele também prometeu fazê-las transmitir o chamado “boletim da verdade” duas vezes por dia.
As reivindicações do presidente acabaram se tornando alvo de piadas. Segundo o humorista venezuelano Laureano Márquez, “um único boletim de notícias que contenha apenas a verdade irá derrubar todo o governo”.