A crise no jornalismo impresso levou ao enxugamento das redações e aos cortes em impressão e distribuição. Recentemente, fez mais um tipo de vítima: os edifícios que sediavam jornalões americanos estão sendo vendidos enquanto a indústria procura desesperadamente por jeitos de aumentar sua receita.
Recentemente, o Washington Post colocou à venda seu edifício sede no centro da cidade e três armazéns em Alexandria, na Virginia; a Tribune Company, por sua vez, contratou um veterano corretor imobiliário para tentar vender alguns de seus bens.
No meio do ano, a New York Times Company anunciou a venda do Boston Globe –concretizada na semana passada – por 70 milhões de dólares. O edifício que abriga a redação do jornal de Boston possui valor estimado em 63,8 bilhões.
As transações envolvem tanto os grandes jornais quanto os pequenos. O Times Argus, de Barre, em Vermont, com circulação de 8,3 mil exemplares nos dias de semana, vendeu sua sede para o prefeito da cidade, e o Seattle Times, com circulação de 237 mil, vendeu sua sede para a empresa canadense Omni e outro prédio para a Simms Commercial Development, onde se tornou o principal locatário.
Em janeiro, os donos do Detroit Free Press e do Detroit News anunciaram que iriam se mudar para uma redação mais moderna e vender sua sede. O San Jose Mercury News recentemente concordou em vender sua sede de 14 hectares para a Super Micro Computer, que construirá uma fábrica no lugar.
Em julho, a Tribune Company, que saiu recentemente de anos de falência, dividiu seus oito jornais diários, dentre eles o Los Angeles Times e o Chicago Tribune, em diferentes empresas, mas manteve todos os seus imóveis e propriedades. A empresa contratou um corretor de imóveis experiente para descobrir como maximizar seu portfólio de bens. Além do edifício de 65 mil metros quadrados, a Tribune tem outras propriedades, como uma gráfica de 200 mil metros quadrados em uma área valiosa da autoestrada de San Diego, na Califórnia.
Espaços menores e mais eficientes
O Los Angeles Times quase se mudou de sua sede há duas décadas, mas acabou desistindo da ideia. “Eles não conseguiram deixar o seu velho ambiente para trás e se mudar para um edifício comercial tradicional”, conta um corretor da cidade. Atualmente, esse tipo de pensamento não tem mais lugar na indústria jornalística: as editoras procuram eficiência e economia de consumo. Os cortes da última década deixaram os jornais com grandes espaços vazios inutilizados.
Após venderem seu prédio da década de 20, em 2011, o Philadelphia Inquirer e o Philadelphia Daily News alugaram um espaço de 11,6 mil metros quadrados, cerca de um quarto do que ocupavam anteriormente. Bart Blatstein, que comprou o antigo edifício por 22 milhões de dólares, espera transformar o local em um cassino.
Com redações cada vez menores, algumas empresas preferem alugar seus edifícios. No ano passado, uma empresa de telemarketing alugou dois andares do prédio do Los Angeles Times. O Yahoo! também alugou três andares do edifício do San Francisco Chronicle. Outros jornais, como o Poughkeepsie Journal, de Nova York, preferiram se tornar locatários dos edifícios dos quais um dia foram donos.
Em 2009, o New York Times conseguiu 225 milhões de dólares para pagar uma dívida ao vender 70 mil metros quadrados de seu edifício para uma empresa especializada em retroarrendamento. O jornal planeja comprar o espaço de volta em 2019 por 250 milhões de dólares.
Mudar de um famoso edifício sede para um espaço genérico pode ajudar no curto prazo, mas também pode prejudicar a imagem passada pelo jornal, diz Rick Edmonds, analista do Poynter Institute. “É uma questão séria quando se lida com anunciantes. Anunciantes gostam de vencedores”, resume ele.