Diante de uma imprensa majoritariamente controlada pelo Estado, o chinês Yin Yusheng é um pioneiro no jornalismo de seu país por experimentar com o financiamento coletivo de reportagens independentes.
Funciona assim: ele coleta doações através de pedidos nos dois maiores sites de microblogging da China e de um site de compras virtuais. Assim que consegue a quantia de 5 mil yuans (cerca de 1,8 mil reais), o jornalista começa a apuração de uma pauta. A quantia corresponde a metade do salário de Yusheng quando ele trabalhava em um jornal.
Sua primeira reportagem tratou do jornalista Chen Baocheng, detido durante um protesto contra a demolição de casas de um vilarejo. A cobertura da mídia estatal focou nas reações de policiais e advogados, e algumas reportagens alegavam que Baocheng encharcou um operador de escavadora com gasolina. No entanto, a cobertura de Yusheng, baseada em mais de 20 entrevistas, mostrou que Baocheng chegou ao local após outras pessoas jogarem gasolina no operador.
Prestação de contas
Preocupado com a transparência, Yusheng divulgou na internet os detalhes de todas as despesas que teve ao cobrir a história, incluindo fotos de bilhetes de ônibus e trens, assim como outros recibos.
O público de Yusheng – ou melhor, quem paga para que ele possa produzir reportagens – é formado por pessoas que desconfiam da veracidade das informações fornecidas pelos veículos estatais. Ao desafiar as versões oficiais das notícias, no entanto, o jornalista pode se tornar um dos próximos alvos da intensa campanha do governo chinês para acabar com os chamados “rumores onlines” contra o Partido Comunista.
Mesmo que Yusheng não seja preso, o governo sempre pode deletar suas reportagens da web. “A internet chinesa está em um período de intensificação de controle e Yusheng está lidando com assuntos sensíveis”, resume David Bandurski, pesquisador de mídia na Universidade de Hong Kong.