O jornalista indiano Tarun Tejpal, respeitado no meio liberal do país, foi preso no último fim de semana acusado de atacar sexualmente uma jovem funcionária da revista Tehelka, que ele fundou e onde atuava como editor-chefe. Há duas semanas, a mulher, que pela lei indiana não pode ser identificada, procurou a chefe de redação da revista, Shoma Chaudhury, alegando que Tejpal a havia molestado duas vezes no elevador de um hotel onde ocorria um simpósio organizado pela publicação. Segundo a funcionária, o editor-chefe chegou, apesar dos seus protestos, a tirar sua calcinha e penetrá-la com a mão.
Tejpal negou as acusações e enviou um pedido de desculpas por escrito à mulher depois que ela fez a reclamação à chefe. Shoma afirmou à redação que havia ocorrido um “incidente infeliz” e disse que o editor-chefe tiraria uma licença de seis meses. A tentativa de diminuir a importância do episódio e tratá-lo como uma questão interna enfureceu jornalistas e ativistas.
O debate sobre violência sexual na Índia tem sido bastante acalorado no último ano, desde o estupro coletivo de uma estudante de 23 anos, que acabou morta após o ataque. Diante das críticas, Shoma pediu demissão, alegando que não queria que os questionamentos sobre suas ações “manchassem a imagem da Tehelka”.
Se condenado, o jornalista pode pegar até 10 anos de prisão. Seu advogado afirmou que ele vai cooperar com a investigação. O promotor público responsável pelo caso, Saresh Lotlikar, disse que Tejpal, detido no fim de semana, só poderia ser devidamente interrogado sob custódia. “O acusado vem trocando cores como um camaleão em diferentes depoimentos”, alfinetou.
Motivação política
O caso ganhou tons políticos em parte porque Tejpal e sua revista já fizeram reportagens investigativas críticas a figuras do nacionalismo hindu e ao Partido do Povo Indiano. O editor chegou a dizer que a investigação contra ele, aberta pelo governo de Goa e não pela vítima, foi orquestrada por seus opositores ideológicos do partido.
No pedido por fiança, os advogados de Tejpal o descrevem como um “notável crítico da política majoritariamente de direita do país” e dizem que o inquérito está “sendo usado para satisfazer o antigo rancor político contra o trabalho e posição ideológica” do editor.
A funcionária molestada respondeu às alegações de motivação política com uma carta. Ela afirmou que sugestões de que por trás de sua queixa há parcialidade política é “o último dos deprimentes indícios de que partes do debate público não estão dispostas a reconhecer que as mulheres são capazes de tomar decisões sobre si mesmas e para si mesmas”. Ela disse ainda que, ao fazer uma queixa pública sobre o episódio, perdeu o emprego e se expôs a calúnias. “Não é a vítima que categoriza o crime: é a lei. E neste caso, a lei é clara: o que o senhor Tejpal fez comigo se aplica à definição legal de estupro”, dizia a carta.
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