Monday, 16 de September de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1305

A internet não salvou o impresso. E agora?

Erik Brynjolfsson e Andrew McAfee, da Sloan School of Management, do MIT, realizaram, durante anos, uma pesquisa sobre os efeitos econômicos da tecnologia digital. Eles tinham a hipótese de que os desenvolvimentos tecnológicos causam rupturas temporárias, que resultam em perda de empregos a curto prazo, mas grande nível de emprego e prosperidade a longo prazo. Isso algumas vezes é chamado de “destruição criativa”, um termo associado ao economista austríaco Joseph Schumpeter.

No entanto, os pesquisadores chegaram à conclusão de que, pelo que parece ser inédito na história humana, avanços tecnológicos recentes estão destruindo o emprego permanentemente, como tem sido visto nos constantes cortes nas redações das empresas de mídia.

Nas publicações, a questão-chave para isso acontecer é a falta de publicidade – principalmente nas plataformas online. Houve um tempo em que se acreditava que mais acessos e audiência online salvariam as publicações impressas, ou ainda o jornalismo. Hoje, é possível afirmar que não é o caso, que isso tem pouco ou nada a ver com a saúde financeira de uma publicação e com a habilidade de empregar jornalistas ou investir no jornalismo.

Não compensa

No livro Free Ride, o jornalista Robert Levine informa que, segundo dados da Associação de Jornais dos EUA, um leitor do impresso vale US$ 539 em publicidade, enquanto o online gera apenas US$ 26. O dinheiro economizado com impressão e distribuição do jornal em papel não consegue compensar a diferença. James Poniewozik, da revista Time, resumiu o cenário: anunciantes pagam menos por audiência online e a audiência online prefere não pagar nada pelo conteúdo que consome.

Assim, não parece ser inteligente a iniciativa de jornais de tentar convencer seus leitores a abandonar a edição impressa e ir para seus sites, como muitos fazem ao investir mais na oferta digital. A MSN Networks matou virtualmente seu conteúdo original, demitindo diversos editores e repórteres e dispensando o trabalho de freelancers no processo. O mesmo aconteceu com a Bloomberg, que demitiu diversos jornalistas da editoria de cultura e de outras áreas. O jornal britânico Independent, por sua vez, demitiu todos os seus críticos de arte. Diversos fotógrafos profissionais foram eliminados de jornais – mais notoriamente no Chicago Sun-Times – e sites. O Oregonian, de Portland, nos EUA, anunciou recentemente 100 cortes, a transferência de recursos do jornal para o site e a redução na distribuição da edição impressa para quatro dias.

Contexto

A New York sofrerá algumas mudanças em 2014 que não agradaram ao público que é fã do impresso. A revista americana passará a ser quinzenal, em vez de semanal, e investirá mais no conteúdo de seu site. Não é surpresa a estratégia de produzir uma publicação quinzenal mais substancial, durável e visual, ao mesmo tempo em que aumenta as ofertas digitais. No entanto, ao que parece, a New York ignora um contexto mais amplo.

Sarah Green escreveu no blog da Harvard Business Review sobre o que seriam supostas boas notícias do digital. “Estou esperando as manchetes sobre os bons tempos na mídia. Em um único minuto, visitantes no YouTube assistem a 100 horas de vídeo – um aumento de 233% comparado ao ano anterior. O número de aparelhos que as pessoas usam para ‘consumir conteúdo’ também está oscilando: um relatório da Cisco sugeriu que, até o final do ano, o mundo terá mais aparelhos móveis do que pessoas”, afirmou. Em 2010, um americano gastou, em média, 10 horas e 46 minutos ao dia consumindo conteúdo; em 2013, esse número terá subido para 12 horas e 5 minutos.

Há poucas iniciativas de investimento na plataforma digital que são exemplos de sucesso, como Gawker e Dish – este último consegue US$ 800 mil em receita de assinaturas. O novo projeto de Glenn Greenwald, ex-jornalista do Guardian que publicou muitos dos principais furos sobre os vazamentos de Edward Snowden, pode ajudar a trazer de volta o jornalismo investigativo, reduzido na internet e com menos recursos para financiamento.