Em meio à crescente inflação e à escassez de produtos básicos, as autoridades venezuelanas dizem estar em uma “guerra econômica” travada contra o presidente Nicolás Maduro. O governo responde à crise com preços tabelados, prisão de comerciantes e repressão aos jornalistas.
Nos últimos dois meses, diversos profissionais de imprensa foram brevemente detidos. Jornais estão sendo investigados por suas coberturas econômicas e sobre os saques no país. A repressão surgiu às vésperas das eleições municipais.
Após as redes de TV amenizarem as críticas ao governo, a maior parte dos ataques é voltada aos jornais impressos. Em outubro, o jornal Diario 2001 enfrentou ataques verbais do presidente venezuelano por reportar a escassez de gás. Maduro chamou a notícia de mentirosa e exigiu a prisão dos editores responsáveis. Logo depois, o procurador-geral abriu um inquérito para investigar a disseminação de informações falsas pelo jornal. Luz Mely Reyes, editora do Diario 2001, foi convocada para interrogatório.
Em novembro, três jornalistas do Diario 2001 foram brevemente detidos pela Guarda Nacional ao cobrir os saques a um supermercado por centenas de pessoas que esperavam em uma fila para comprar carne de porco. Um dos jornalistas foi espancado e o Banco de Venezuela, entidade estatal, retirou seus investimentos em publicidade no jornal.
“Meus jornalistas se sentem intimidados e desprotegidos. O que você faz quando o presidente começa a lhe insultar? Você não tem como se defender”, disse Luz Mely Reyes. “Eu não sei se teremos força para resistir quando o governo voltar a nos atacar”.
Pessimismo econômico
Um dos jornalistas que tentaram resistir, em vão, foi Omar Lugo, ex-editor do jornal econômico El Mundo. Em junho, o conglomerado de mídia que tinha posse do El Mundo e do maior jornal venezuelano, Últimas Noticias, foi vendido para um grupo de investidores próximo ao governo de Maduro.
Segundo Lugo, desde outubro os novos donos tentaram lhe convencer a publicar matérias mais simpáticas ao governo. Ele se negou, dizendo que era impossível ser otimista com a situação econômica do país. Utilizando dados governamentais, o jornalista publicou no mês passado uma notícia de capa mostrando como as reservas internacionais do banco central estavam caindo e chegando ao menor nível dos últimos nove anos.
A matéria aparentemente enraiveceu Maduro. Em um discurso televisionado, o presidente acusou o jornal de fazer cálculos falsos. Lugo foi demitido poucos dias depois. Um grupo de repórteres do El Mundo e do Últimas Noticias lançou um comunicado condenando a ação. Os profissionais abriram, ainda, uma conta no Twitter, @UNsinCensura, para fornecer uma visão interna de como estão sendo pressionados pelo governo.
Os correspondentes internacionais também não estão imunes à campanha contra a imprensa. Jim Wyss, do Miami Herald Andes, foi detido em novembro em San Cristobal, na fronteira com a Colômbia, ao investigar o contrabando de mercadorias como óleo e arroz, que são traficados para a Colômbia, onde podem ser vendidos por um preço sete vezes maior do que na Venezuela.
Wyss tentou entrevistar oficiais militares, que, segundo rumores, estão envolvidos no contrabando. Em vez de responder, os militares o prenderam e o enviaram para Caracas, onde foi prontamente liberado. Autoridades venezuelanas disseram depois que Wyss foi detido por não ter registrado suas credenciais com o Ministério das Comunicações, ação que todo jornalista estrangeiro deve fazer para poder reportar do país.