Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Ilha dos Castro começa a se abrir para as críticas

Durante décadas, os cidadãos de Cuba discutiram assuntos políticos em voz baixa e quase nunca se referiam a Fidel e Raúl Castro por nome, mesmo dentro de suas próprias casas. Porém, recentemente – especialmente em Havana –, os cubanos começaram a falar mais abertamente sobre temas como a economia do país, liderança política e as restrições que sofrem. À medida que ganham mais liberdade e discutem seus problemas online, eles ampliam os limites sobre o que podem ou não debater.

“O que as pessoas podem falar sem ser punidas mudou”, diz Ted Henken, professor na Universidade da Cidade de Nova York (CUNY). Muito disso se deve ao estilo do presidente Raúl Castro. Desde que assumiu o poder, em 2006, o irmão de Fidel incentivou os cubanos a opinar sobre a economia e também pediu que os meios de comunicação estatais fossem mais incisivos. “As pessoas em Cuba querem debater, discutir, escutar e ser ouvidas”, afirma Carlos Alberto Pérez, que tem um site que cobre temas tão diversos como a dificuldade para conseguir cremar um corpo e o transporte público.

Limites da abertura

A internet, apesar de estar fora do alcance da maioria dos cubanos, tem quebrado o monopólio do Estado na divulgação da informação e permitido um vasto espectro de opiniões. No ano passado, o blog La Joven Cuba foi bloqueado por diversos meses após ter publicado uma série de artigos críticos. Hoje, diz Harold Cárdena Lema, um dos fundadores do blog, “nós esbarramos com oficiais [do governo] e eles dizem, ‘ah, eu estava agora mesmo lendo o seu artigo’”. “Cuba é um país em que durante anos não existiu nada além de extremos”, diz Lema. “Mas nós conseguimos chegar a uma realidade mais moderada.”

Porém, ainda existem limites. O governo continua a perseguir a oposição, e aqueles que ultrapassam a tênue linha entre a crítica leal a dissidência política correm o risco de censura, de perder o emprego ou até de prisão.Segundo a Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional, um grupo independente que acompanha os tratamentos concedidos a ativistas, 761 deles foram presos em novembro. Em outubro, cinco jornalistas independentes foram detidos por vários dias, de acordo com a organização Repórteres Sem Fronteiras.

A mídia dirigida pelo Estado, que abrange todos os meios de comunicação, jornal, televisão e rádio em Cuba, tem aderido publicamente ao que chama de “batalha contra a falta de abertura” e feito esforços, embora tímidos, para modificar sua cobertura jornalística. Em setembro, o canal de TV estatal introduziu um segmento chamado de “Cuba Diz” em que os cubanos eram entrevistados nas ruas para opinar sobre questões como alcoolismo, problemas de habitação e o alto preço das frutas e vegetais.

Em uma rara demonstração de flexibilidade, o jornal oficial Granma escreveu em novembro que a opinião pública parecia ser contrária a uma recente proibição a cinemas 3-D privados. O artigo chamava atenção para o “rico” debate online sobre o tema e dizia que os cubanos apoiavam a regulação e reabertura de salas de cinema no país.

Porém, alguns dizem que essas mudanças são apenas de fachada ou uma tática para cooptar dissidências internas. Para Arturo López Levy, ex-analista da inteligência cubana que hoje leciona na Universidade de Denver, o impulso por uma mídia oficial mais crítica é, em parte, uma tentativa de controlar um debate que já ocorre na mídia social. “Diante do desafio de um ambiente mais aberto, o governo prefere canalizar as queixas e debates para seus próprios mecanismos”, resume.