Uma das tendências mais importantes no jornalismo para 2014 é a onda de algoritmos e processos sofisticados que irá mudar para sempre como as notícias são produzidas e consumidas. Estes novos sistemas contam com os vastos repositórios de dados gerados pelas pessoas todas as vezes em que se conectam à web, seja em buscas no Google por um restaurante ou ao desejar feliz aniversário aos amigos no Facebook.
No ano passado, as primeiras experiências com algoritmos foram vistas no Google Now, lançado originalmente como parte do sistema operacional Android, e em um aplicativo chamado MindMeld, criado pelo ex-pesquisador do MIT e atual CEO do Expect Labs Tim Tuttle. Tanto o Google Now quanto o MindMeld observam os últimos minutos do processo de pensamento do usuário para prever os próximos 10 segundos.
No caso do Google Now, se o internauta estiver buscando no Google por informações sobre o novo filme dos irmãos Coen, Inside Llewyn Davis – Balada de um Homem Comum, e perguntar onde está sendo exibido, o site entende que ele quer saber o cinema mais próximo e talvez obter orientações de como chegar lá. O MindMeld oferece ainda mais: quando usuários se conectam ao aplicativo, ele oferece informação contextual sobre determinado tema. Se o internauta estiver conversando com um amigo sobre o filme, por exemplo, o MindMeld irá automaticamente mostrar informações sobre os diretores, atores, detalhes sobre a trilha sonora, críticas e mais.
Nas mãos dos jornalistas, esses e outros aplicativos de computação de antecipação podem ser aproveitados como poderosos assistentes. O Google Now pode consultar calendários, tráfego, meteorologia e notícias para entregar apenas a informação certa no momento certo. Ele pode ver, por exemplo, que há tráfego pesado ao longo de sua rota e alertá-lo para sair sete minutos mais cedo do que faria normalmente. O MindMeld, por sua vez, pode fornecer conteúdo aos repórteres sobre o entrevistado durante a entrevista.
Boas oportunidades
Se os aplicativos podem antecipar os próximos pensamentos, então os algoritmos podem permitir duas possibilidades interessantes em 2014: previsão de notícias de última hora e fornecimento de conteúdo altamente personalizado a cada consumidor. Informações de redes sociais já são usadas para mostrar crises assim que começam a acontecer, como em eventos esportivos, quando os fãs tendem a postar de maneira mais acalorada e, em seguida, postam fotos ou vídeos de brigas. Algumas empresas, como a IBM, têm usado ferramentas como big data e inteligência artificial para inferir mudanças no mundo real. Não se trata de prever a notícia de alguns dias a partir de agora – mas sim de notar um evento de última hora quando ele está prestes a acontecer.
Organizações de notícias esperavam, há muito tempo, por uma personalização significativa das notícias. Diversos experimentos falharam, talvez porque a abordagem sempre foi muito rudimentar. Os usuários chegam a assinalar alguns interesses nos sites, como “esportes” e “notícias do mundo” e, dependendo da forma como o sistema foi programado, seriam entregues para esses perfis matérias dessas categorias. Mas a seleção de algumas grandes categorias nunca permite nuances em geografia, gosto ou até mesmo mudanças nos interesses, que são temporais, assim como o ciclo de notícias.
A promessa de sistemas como o Google Now e o MindMeld está na capacidade de antecipar o conteúdo que pode ser interessante no momento seguinte. Eles mostram a necessidade de conteúdo relacionado, já que aparentemente o conteúdo fornecido seria compreensível apenas para o indivíduo. Como resultado, as organizações de notícias têm boas oportunidades nos próximos meses para investir no processo de elaboração de notícias e elevar a noção de conteúdo personalizado a um novo patamar.