Tuesday, 12 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Bill Keller deixa ‘NYT’ para assumir startup de jornalismo

O ex-editor-executivo e atual colunista do New York Times Bill Keller, de 65 anos, anunciou sua saída do jornalão para se tornar editor-chefe do The Marshall Project, uma startup de jornalismo apartidária e sem fins lucrativos focada no sistema americano de justiça criminal. Keller permanecerá no Times até o início de março.

“É uma oportunidade de construir algo do zero, coisa que nunca fiz”, disse o jornalista, completando: “E de usar todas as ferramentas que a tecnologia digital oferece a jornalistas em termos de métodos investigativos e de apresentação sobre um assunto que realmente interessa no âmbito pessoal”.

Ao longo de uma carreira de três décadas no Times, Keller ganhou o Pulitzer de reportagem internacional como correspondente em Moscou; narrou o colapso do apartheid como chefe da sucursal de Joanesburgo e serviu como editor-executivo de 2003 a 2011. Sob o comando de Keller, o Times ganhou 18 prêmios Pulitzer. Ele conduziu o veículo durante um período de tensão financeira e supervisionou a expansão do site do jornal, bem como de seu público online.

“Bill contribuiu tanto para o Times ao longo de 30 anos que é difícil quantificar seus feitos”, declarou Arthur Ochs Sulzberger Jr., publisher do jornalão nova-iorquino. “Ele desafiou seus colegas de redação para inovar, ao mesmo tempo em que se mantinha fiel aos mais altos padrões jornalísticos, e todos nós evoluímos com isso”.

Antes de entrar para o Times, em 1984, Keller trabalhou para o Dallas Times Herald, para o Congressional Quarterly Weekly Report em Washington e para o Oregonian, em Portland.

Do jornalismo a Wall Street

O Marshall Project foi criado no ano passado por Neil Barsky, um jornalista que se transformou em administrador financeiro. Barsky foi repórter do Wall Street Journal, depois se tornou analista de pesquisa da Morgan Stanley – empresa de serviços financeiros sediada em Nova York – e a partir daí criou um fundo multimercado, o Alson Capital, que em seu auge lucrou US$ 3,5 bilhões. O fundo foi encerrado em 2009. Recentemente, Barsky se voltou para o cinema, dirigindo Koch, um documentário de 2012 sobre Edward I. Koch, que foi prefeito de Nova York entre 1978 e 1989.

Barsky disse que espera que o Marshall Project estimule um debate nacional sobre o sistema de justiça criminal. O site, com lançamento previsto para o segundo trimestre deste ano, planeja arrecadar dinheiro de fundações e doadores particulares e segue o modelo de outras organizações de notícias sem fins lucrativos, como a ProPublica. Seu orçamento é estimado em cerca de US$ 5 milhões por ano, valor capaz de sustentar uma equipe de cerca de 30 pessoas.

Andrew Rosenthal, editor das páginas editoriais do Times, disse que ficou surpreso com a decisão de saída de Keller e ressaltou que o jornal e seus leitores sentirão falta de sua coluna. “No entanto, é uma oportunidade incrível”, disse Rosenthal. “Se você quer fazer algo novo, esta área é ótima para isso. Meu primeiro pensamento, puramente egocêntrico, é que será excelente ter uma nova fonte de informação sobre justiça criminal”.

A sucessora de Keller no comando do Times, Jill Abramson, classificou suas contribuições para o jornal como “um legado magnífico”. “Bill é um jornalista esplêndido, que faz de tudo: edição, reportagem, redação e colunismo”, declarou a atual editora-executiva. “Que bela jogada para este novo empreendimento conseguir alguém do calibre dele. Vou sentir falta dele, mais do que consigo expressar”.

Nem tudo são flores

No entanto, Hamilton Nolan, jornalista do site Gawker, não se mostrou tão otimista assim com o anúncio. Em coluna recente, ele despejou comentários um tanto ácidos sobre a saída de Keller do Times, classificando-a como o “ato final de uma longa história que prova que o New York Times não é tão importante como era antes”.

Nolan disse também que Keller é o único que sairá perdendo com a mudança, e que, por ser um sujeito “da velha guarda da imprensa” e “com um desgosto nítido pelas novas mídias”, é “totalmente inadequado para liderar uma startup de jornalismo online de qualquer espécie”.