Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Executivo defende restrição da cobertura em nome dos negócios

Em discurso na semana passada, o presidente da Bloomberg Inc, Peter T. Grauer, surpreendeu ao defender que a empresa deveria rever as reportagens publicadas por sua unidade editorial sobre a China que fossem capazes de influenciar seus negócios, já que poderiam comprometer o potencial de vendas no mercado chinês. No passado, a agência de notícias Bloomberg News, que pertence ao grupo, publicou matérias que desagradaram o governo de Pequim.

A afirmação de Grauer representa o reconhecimento mais gritante já feito por um executivo sênior de uma empresa de comunicação sobre o domínio dos interesses empresariais sobre os interesses jornalísticos. Grauer disse que as ambições do departamento editorial devem se enquadrar ao contexto da operação de negócios, que fornece a maior parte da receita do grupo.

Reconhecendo o tamanho da economia chinesa, a segunda maior do mundo, atrás apenas da americana, Grauer resumiu: “Nós temos que estar lá”. Os comentários do presidente foram recebidos com consternação, especialmente porque ele é considerado próximo ao fundador da companhia, o bilionário Michael Bloomberg, e dificilmente exporia pontos de vista que não fossem amplamente aceitos pelo alto escalão. Jornalistas e ex-jornalistas da Bloomberg, que aceitaram dar declarações ao New York Times sob condição de anonimato, disseram que se esperava que a controvérsia em torno das reportagens da Bloomberg sobre a China levasse a empresa a reafirmar seu apoio aos esforços investigativos, e não o contrário.

Conflito antigo

Apesar de Grauer não ter mencionado diretamente, suspeita-se que seu discurso tenha feito referência a um episódio ocorrido em junho de 2012, quando a Bloomberg publicou um artigo a respeito da riqueza da família de Xi Jinping, atual presidente da China, e que à época estava na iminência de chefiar o Partido Comunista.

Após a publicação do material, a venda dos terminais de informação financeira da Bloomberg – onipresentes nas mesas dos banqueiros de todo mundo e eu representam 82% da receita anual de US$ 8,5 bilhões da empresa – sofreram grande queda na China. O governo chinês chegou a ordenar às estatais que não contratassem mais os serviços da Bloomberg.

As autoridades locais também bloquearam o site da Bloomberg News em servidores chineses, e a agência ficou impossibilitada de obter novos vistos de residência para seus jornalistas.

Denúncias de censura

Em outro episódio envolvendo a cobertura da agência sobre a China, o New York Times publicou uma reportagem, em novembro passado, alegando que os principais editores da Bloomberg News, liderados pelo editor-chefe Matthew Winkler, vetaram um artigo investigativo devido a temores de que a empresa viesse a ser expulsa do país. Winkler negou que o artigo tivesse caído por este motivo.

Michael Forsythe, co-autor do artigo vetado (e também responsável pela matéria sobre a riqueza da família Xi em 2012), deixou a Bloomberg News logo após a publicação da reportagem sobre a controvérsia e se juntou à equipe do New York Times em janeiro deste ano.

O New York Times chegou a sofrer o mesmo tipo de censura que a Bloomberg News quando publicou um artigo, em outubro de 2012, mencionando a riqueza da família de Wen Jiabao, então primeiro-ministro chinês. Na época, site do jornal foi bloqueado e seus jornalistas também foram proibidos de receber novos vistos de residência.

Ex-prefeito

A Bloomberg é controlada pelo bilionário Michael R. Bloomberg, que retornou à empresa no início deste ano após ocupar por 12 anos o cargo de prefeito de Nova York. Nas últimas semanas, Michael Bloomberg se estabeleceu no quinto andar da sede em Nova York, que abriga principalmente as operações televisivas da Bloomberg News. Sua influência dentro da unidade editorial tem aumentado desde então, informou um dos funcionários, que pediu anonimato para dar declarações referentes às operações internas.

Uma das intervenções mais recentes de Michael Bloomberg ocorreu quando jornalistas da empresa foram acusados de utilizar dados privilegiados, obtidos através dos terminais da informações financeiras, para redigir suas reportagens. Após o episódio, reuniões foram convocadas e repórteres foram instruídos a evitar o uso de informações confidenciais e a se identificar claramente como membros da equipe editorial. “O objetivo”, disse uma fonte que também pediu anonimato, “era garantir aos clientes dos terminais que suas informações estarão seguras”.

Novas estratégias

Um dia antes do polêmico discurso de Grauer, Justin B. Smith, presidente-executivo do Bloomberg Media Group, delineou uma ambiciosa estratégia de crescimento para a unidade de notícias, a qual exigiria expansão e mais investimento.

Num memorando publicado no site Medium, ele escreveu: “A Bloomberg Media está se preparando para construir uma empresa líder de mídia multiplataforma digitalmente conduzida e voltada para o negócio global. Queremos nos tornar fonte indispensável de informação para as pessoas mais influentes do mundo”.