Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

‘Financial Times’ anuncia sistema próprio de regulação

Diante da prolixa discussão sobre regulação da imprensa no Reino Unido, o Financial Times publicou na semana passada [18/4] uma carta de seu editor-chefe, Lionel Barber, com o posicionamento do tradicional jornal sobre o tema. O FT anuncia que decidiu implantar seu próprio sistema de regulação e criar um cargo para cuidar das queixas de cunho editorial. Desta forma, sugere que ficará de fora da Organização Independente para Padrões da Imprensa [IPSO, na sigla em inglês], proposta por membros da indústria de mídia britânica.

Segue a carta:

Declaração do Financial Times sobre regulação da imprensa

O Financial Times defende uma imprensa independente, livre de interferência econômica e política. Portanto, apoiamos os esforços para criar um sistema mais forte de regulação independente para a indústria como resultado do Inquérito Leveson.

Após cuidadosa deliberação, o FT decidiu implantar um sistema responsável, de confiança, vigoroso e altamente adaptável para acompanhar o ritmo das mudanças em nossa indústria. Nós acreditamos que este caminho é consistente com nosso histórico de excelência e integridade jornalística, e tem como base nosso já forte sistema de governança construído para manter os mais altos padrões éticos possíveis.

O FT estabeleceu uma trajetória para trilhar seu próprio caminho em um momento de mudanças violentas na indústria jornalística. De forma coerente, nós tomamos decisões que marcaram uma ruptura com as práticas da indústria quando eram a coisa certa a fazer para nossos leitores e para nosso negócio.

Nosso caminho reflete a posição do FT como uma operação digital de notícias com alcance global. Mais de três quartos de nossos leitores estão hoje fora do Reino Unido. Nossos principais concorrentes são organizações globais de notícias, e cada uma emprega seu próprio sistema de regulação independente. Não há padrão da indústria.

O FT é membro antigo da Comissão de Queixas à Imprensa [PCC, na sigla em inglês], que deve ser encerrada em breve. Os leitores, portanto, não terão a PCC para recorrer como um serviço independente para lidar com reclamações. Em seu lugar, iremos instalar um novo mecanismo para lidar com as queixas dos leitores caso eles sintam que nossos procedimentos internos falhem em fornecer uma resposta adequada.

Dois pontos são relevantes aqui. Primeiro, nossos registros na PCC nos últimos anos mostram que na maioria esmagadora dos casos o FT foi isentado das críticas. Segundo, o FT sempre esteve disposto a lidar com as queixas prontamente e, se ordenado, a publicar um esclarecimento, correção ou pedido de desculpas.

Entretanto, nós reconhecemos que precisamos fornecer garantias adicionais no mundo pós-PCC. Desta forma, iremos criar um novo posto de chefe de queixas editoriais. A linha de trabalho será exposta em um anúncio público. O candidato bem sucedido será indicado por um comitê de três pessoas e será independente do editor.

Além disso, o FT continuará a fornecer plataformas para os leitores comentarem sobre os artigos e participarem de discussões com nossos repórteres e comentaristas. Nós acreditamos que nosso diálogo com os leitores de todo o mundo é importante. Compreender o que eles querem e prezam é vital para nosso sucesso como uma organização de notícias.

O FT irá continuar a interagir com nossos pares na indústria. Cada jornal e grupo jornalístico deve fazer sua própria escolha sobre a regulação. Neste momento, nós decidimos marcar nosso próprio caminho. Nos comprometemos com o melhor sistema e estamos determinados a manter os altos padrões que serviram o FT e nossos leitores tão bem ao longo dos últimos 126 anos. (Lionel Barber)