Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Alguém ainda se importa com plágio?

Houve uma época em que um anúncio como esse teria significado, sem sombra de dúvida, o fim de uma carreira profissional e uma reputação manchada para o empregador. Mas agora? Bem, vamos ver. Na sexta-feira [16/5], numa fria “nota do editor”, a CNN anunciou que demitira a editora de notícias Marie-Louise Gumuchian depois de terem sido descobertas “múltiplas instâncias de plágio”. A rede diz que, embora a investigação ainda esteja “em curso”, até agora foram descobertos “exemplos em cerca de 50 matérias publicadas“ e está tentando retirar as instâncias de plágio do site. Marie-Louise Gumuchian, que mora em Londres e trabalhava nas notícias internacionais, não pode, de maneira alguma, ser acusada de pouca coisa. Uma fonte de dentro da CNN disse ao Washington Post que os textos duvidosos “contêm um total de 128 instâncias isoladas de plágio”, a maioria delas selecionada de despachos da agência Reuters, onde Marie-Louise trabalhara por nove anos. A fraude foi descoberta quando um editor de texto notou “algo errado num determinado trecho de uma das matérias de Gumuchian” e resolveu fazer uma segunda checagem.

Em sua declaração sobre a situação, a CNN disse que “confiança, integridade e a simples concessão de crédito merecido estão entre os princípios de jornalismo que nos são muito caros e lamentamos ter publicado material que não refletia esses padrões essenciais. Também iremos comunicar à audiência quando tiverem sido contornadas as situações que ameaçam comprometer essa confiança”. A confiança da audiência parece bem mais flexível do que já foi. Depois de ter sido demitida por plágio em 1995 pela revista New Republic, a ex-jornalista Ruth Shalit passou para a publicidade e, eventualmente, para uma coluna assinada (inclusive no site Salon e na revista Elle), antes de desaparecer nos bastidores do jornalismo. Depois de descobertas suas matérias com plágios e fatos inventados em 2003, a carreira do ex-repórter do New York Times Jayson Blair foi paralisada – um destino semelhante ao que ocorreu com o ex-repórter da New Republic Stephen Glass, quando suas mentiras foram desenterradas em 1998.

Abusca por um novo conteúdo

Com os escândalos jornalísticos mais recentes, no entanto, as sequelas têm sido menos rigorosas. Ben Domenech deu início a sua carreira plagiando matérias do Salon quando ainda estava na universidade e, embora isso tenha frustrado uma breve atuação no Washington Post, ele continuou a escrever e a dar opiniões. Há cinco anos, a colunista do New York Times Maureen Dowd foi flagrada ao recolher um parágrafo do blog Talking Ponts Memo, do editor Josh Marshall, embora ela ainda insista que não o leu. O Times limitou-se a corrigir a coluna de Maureen Dowd, concedendo o crédito a Marshall, e não houve consequências. E, talvez o caso mais famoso: depois que o menino-prodígio Jonah Lehrer se autoplagiou e inventou citações, continuou a escrever, conseguiu acordos para publicar livros e o apoio de pessoas como Malcolm Gladwell.

Provavelmente, a CNN não tinha outra opção senão a de fazer o que fez, diante do plágio aparentemente descarado e promíscuo de Marie-Louise Gumuchian, mas diz muito sobre a atual situação da apuração jornalística o fato do Washington Post ter notado que, quando o estratagema foi descoberto, “a CNN não recebeu reclamações sobre o plágio”. Ninguém reparou. Ninguém olhou até que “uma verificação de rotina” de uma editoria alertou para o caso. Uma fonte da CNN comentou, em citação publicada pelo Poynter: “É bastante corajoso – você não acha que seus antigos colegas poderiam dar uma olhadela no que você está fazendo em seu novo emprego?”. Mas no ciclo frenético das notícias, no qual consumimos e criamos na maior velocidade possível, quem tem tempo para isso? E o impulso de busca por um novo conteúdo – qualquer conteúdo – pode passar à frente da prioridade de ter certeza da exatidão, ou mesmo da originalidade.

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Mary Elizabeth Williams é jornalista e escritora