Uma lei de reforma da Voice of America (VoA), que, se aprovada, provocará mudanças essenciais na missão do serviço financiado pelo governo americano, levantou um intenso debate: os defensores da legislação alegam que ela permitirá que a VoA confronte a propaganda de desinformação realizada pelo governo russo, enquanto os oponentes dizem que transformará o serviço num instrumento de propaganda de Washington.
A Voice of America (ou Voz da América) é o serviço oficial de radiodifusão internacional dos EUA. Financiado pelo governo, ele só pode operar fora do país, e transmite em dezenas de idiomas em canais de rádio e televisão. Ele foi fundado em 1942 como parte do Gabinete de Informação de Guerra com o objetivo de conter a propaganda nazista e japonesa. Na Guerra Fria, o serviço foi transferido para o Departamento de Estado e, posteriormente, para a Agência de Informação dos EUA e era usado para conter a propaganda comunista na Alemanha Oriental e em países soviéticos. Em 1999, a VoA passou para a supervisão do Broadcasting Board of Governors (BBG), uma agência federal autônoma, o que garantiria sua isenção editorial. O BBG é responsável pelos serviços de mídia internacional civil financiados pelo governo americano.
Independência
A legislação, que passou recentemente pelo Comitê de Assuntos Estrangeiros do Congresso, faz mudanças nos objetivos oficiais do serviço. Especificamente, ela altera a definição da missão da VoA para declarar explicitamente seu papel de apoio à diplomacia americana e às políticas do governo.
Jornalistas que trabalham no serviço, no entanto, argumentam que a legislação deverá afetar sua independência. Segundo um funcionário entrevistado pelo New York Times que não quis ser identificado, a lei pode prejudicar a reputação construída pela VoA nas últimas décadas como uma organização de notícias respeitada. “A mudança do nosso foco de ‘notícias’ para ‘promoção de políticas’ irá eliminar qualquer esforço para manter e construir nossa audiência”, afirmou ele.
Membros da equipe que se consideram jornalistas profissionais, e não porta-vozes das políticas do governo, demonstraram a seus superiores receio em relação à legislação. Existe a possibilidade de que haja uma saída em massa de funcionários se a lei for aprovada.