As regras do jogo mudaram e o jornalismo internacional de zonas de conflito está tendo dificuldades para se adequar. Nos últimos anos, diversas sucursais fecharam por causa de cortes no orçamento – entre 2003 e 2011, o número de correspondentes dos grandes jornais americanos caiu de 301 para 234 –, fazendo com que os veículos de comunicação recorram cada vez mais ao trabalho de jornalistas freelancers, muitos deles sem nenhuma preparação específica ou apoio dos jornais que os contratam.
Ao mesmo tempo, a natureza da guerra mudou; as zonas de conflito modernas não têm mais fronts de batalha nem lados definidos, como pode se notar na Síria e no Iraque. O perigo está em toda parte e, diferente do passado, os jornalistas não são mais visto como figuras neutras, que estão ali apenas para reportar os acontecimentos.
Segundo Steve Coll, reitor da Escola de Jornalismo de Columbia, os grupos rebeldes não precisam mais dos jornalistas para que a história deles seja divulgada para o mundo. Com as novas tecnologias, isso pode ser feito por eles próprio, sem o filtro da mídia, e foi essa noção que acabou com a antiga neutralidade dos jornalistas; hoje, profissionais de imprensa são vistos como mais um alvo.
Desde 2011, início da guerra na Síria, houve um aumento no número de jornalistas que cobrem zonas de conflito e são alvos de grupos extremistas – entre os exemplos recentes e emblemáticos estão os dos americanos James Foley e Steven Sotloff, decapitados pelo Estado Islâmico entre agosto e setembro de 2014. De acordo com um levantamento do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), 61 jornalistas foram sequestrados e 21 foram mortos em 2013 na Síria.
Em busca de um novo modelo
O alto número de baixas já fez com que novas medidas surgissem. Após a morte de James Foley, a diretora de notícias globais da Agence France-Presse (AFP), Michèle Léridon, publicou um manifesto anunciando que não contrataria mais freelancers para cobrir a guerra na Síria. Ela escreveu que não iria mais “aceitar trabalho de jornalistas freelancers que viajam para lugares em que nós mesmo não nos arriscamos”.
Segundo Amie Ferris-Rotman, ex-correspondente da Reuters, uma das alternativas para se adequar aos novos tempos seria investir em treinamento de repórteres locais, que financeiramente são mais baratos de contratar e “produzem histórias melhores porque conhecem melhor os lugares”. Na opinião de Amie, conseguir encontrar um novo modelo para cobrir conflitos internacionais é essencial para assegurar que as notícias dos eventos ao redor do mundo cheguem até o público. “Se nós não mudarmos, eu acho que o mundo irá sofrer enormemente porque ficaremos cada vez menos informados”.