Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Luta contra alarmismo esbarra em falta de cobertura especializada

A chegada do vírus Ebola aos EUA acabou levantando questões sobre a melhor forma de se cobrir uma crise de saúde. O alarmismo de alguns veículos jornalísticos, aliado à facilidade como as informações se disseminam pelas redes sociais, provocou temor desnecessário.

O transporte do primeiro médico americano contaminado na África e levado para tratamento nos EUA, em agosto, teve direito a helicópteros com câmeras seguindo o trajeto até o hospital. “Em vez de dissipar mitos não-científicos e políticos, o instinto em muitos veículos de mídia tem sido promovê-los”, escreveu na ocasião a blogueira e escritora Leslie Savan, referindo-se ao circo da mídia montado em torno da tão temida chegada do Ebola em solo americano.

Nos últimos meses, no entanto, os baixos números do vírus no país acalmaram um pouco os ânimos. Um homem liberiano chegou infectado aos EUA em setembro, e duas enfermeiras contraíram o vírus – ele morreu, elas receberam alta. Um cinegrafista americano que contraiu o Ebola na Libéria também foi tratado – e uma médica que é correspondente da emissora NBC News levou um puxão de orelha por violar a quarentena imposta à equipe que o acompanhou no país africano.

Prefeito no metrô

Em Nova York, a notícia de que um médico com o vírus teria andado de metrô pouco mudou a rotina da cidade. Apesar das redes sociais terem fervido com a informação – menções ao Ebola subiram de menos de 10 mil para 33 mil no Facebook e no Twitter –, as pessoas circularam normalmente. O prefeito Bill de Blasio chegou a publicar no Twitter uma foto sua andando de metrô para assegurar a população de que era seguro usar o transporte público. O presidente Barack Obama, por sua vez, recebeu na Casa Branca uma das enfermeiras curadas do vírus; foram divulgadas imagens de um abraço entre os dois.

Ações como estas de autoridades ajudam a amenizar o alarmismo difundido pelas redes sociais e por parte da mídia. Em editorial, a revista Columbia Journalism Review resume o problema a ser combatido: além de sites como Facebook e Twitter atuarem como verdadeiros “megafones de desinformação”, outra questão é a redução do número das seções de ciência nos jornais americanos.

Enquanto em 1989 havia 95 seções semanais em jornais no país, em 2012 esse número caiu para apenas 19. Em 2008, a rede de TV CNN eliminou inteiramente sua equipe de ciência. A pauta do Ebola ressaltou a falta da cobertura especializada. “Nós precisamos destas vozes especializadas e sensatas mais do que nunca”, alerta a revista.

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