Alguns veículos de comunicação têm se concentrado, nos últimos anos, em inovação interna a fim de diversificar receitas e permanecer relevantes no mercado. Em artigo para a Columbia Journalism Review, a jornalista de novas mídias Erin Polgreen fala sobre a tendência, que chama de “intra-empreendedorismo”.
Erin cita alguns casos de investimento nessa área: o jornal San Francisco Chronicle lançou uma incubadora no início de 2014 para treinar sua equipe e incentivar a inovação; o New York Times fez uma série de investimentos estratégicos em startups; há ainda o Blendle, cuja ideia central é unir grandes editoras da Holanda numa única plataforma de assinaturas (a maioria de seus usuários possui idade inferior a 35 anos).
Outra organização que busca estimular a inovação internamente é o Innovation Lab (“Laboratório de Inovações”) do New York Daily News. O laboratório oferece estrutura a startups, desde espaço físico a financiamentos, além da oportunidade de ter seus projetos incorporados à redação para desenvolver produtos.
Erin relata que uma das experiências mais bem-sucedidas no intra-empreendedorismo é a Curious City (“Cidade Curiosa”), um produto editorial que coloca a comunidade no centro da criação de conteúdo. Lançado em 2012 em parceria com a estação de rádio pública de Chicago WBEZ, o projeto tem sido um sucesso retumbante. No caso, o público faz perguntas aos jornalistas, alguns temas são selecionados e depois o mesmo público vota nos assuntos que gostaria de explorar. Os mais votados são colocados em produção, e a pessoa responsável pela primeira pergunta que colocou o tema em foco é convidada a participar de todo o processo de produção da reportagem. O plano agora é lançar o Curious Nation (“Nação Curiosa”) – projeto que já recebeu subsídios de 110 mil dólares.
Barreiras burocráticas
Erin diz, no entanto, que a inovação intra-organizacional nem sempre é tão simples, pois pode esbarrar na burocracia. Determinar a propriedade do produto é difícil, e mudanças rápidas de estratégia podem ser minadas por processos decisórios pesados. Ao passo que incubadoras em geral são úteis para transformar culturas organizacionais, nesse caso não pode haver retrocessos.
David Park, diretor de desenvolvimento de negócios do New York Daily News e diretor do Innovation Lab, diz que o esforço dedicado ao Laboratório é limitado, visto que há restrições de recursos e não existe uma equipe em tempo integral. “Se minha equipe tem um prazo na redação tradicional, que é onde aplicamos cem por cento do foco, o Innovation Lab virá depois”, diz ele.
Park descreve a estrutura como algo similar a projetos paralelos desenvolvidos por empresas como Google e 3M, onde existe um trabalho semanal, mas sem divisões formais de tempo. Apesar do desafio no cronograma, Park afirma que o laboratório traz vários benefícios, como “energia” para a equipe e auxílio na reformulação da percepção pública em relação à empresa. “Esse tipo de coisa nos mantém definitivamente relevantes no que diz respeito a ser uma empresa que realiza coisas interessantes e inovadoras”, conta. Ele frisa que também é um ótimo ímã de novos talentos.
Salvação do Jornalismo
Erin conclui que o intra-empreendedorismo é um modelo interessante para ser implementado por empresas de comunicação, e que os principais financiadores e redes de jornalismo estão investindo estrategicamente nesse nicho. Ela, inclusive, enxerga a salvação do jornalismo aí. Aliás, tanto Erin quanto Park são inflexíveis na opinião de que o intra-empreendedorismo é fundamental para o legado dos meios de comunicação. “As novas gerações de consumidores vão querer novos meios de ler, assistir e amar a mídia que os conecta ao mundo. Conforme a tecnologia muda, o empreendedorismo pode ajudar a salvar empresas que têm amplo valor para as comunidades que servem”, diz ela.