Advogados do WikiLeaks escreveram ao Google e ao Departamento de Justiça dos EUA para condenar o que classificam de uma grave violação da privacidade e dos direitos jornalísticos de membros da organização, que dedica-se a divulgar informações confidenciais de governos e empresas. O Google revelou, em dezembro de 2014, que entregou ao governo americano os emails e metadados de três jornalistas do WikiLeaks em março de 2012 com base em mandados que citavam “conspiração” e “espionagem” por parte da ONG.
Em uma mensagem endereçada ao presidente do Google, Eric Schmidt, o WikiLeaks afirma ter ficado “espantado e preocupado” com o fato da empresa ter esperado mais de dois anos e meio para notificar as pessoas envolvidas sobre a entrega de seus dados ao governo. O Google afirmou à organização que não pôde revelar a informação mais cedo por causa de uma ordem de silêncio sobre os mandados – não especificou, porém, quando esta ordem de silêncio foi suspensa.
Os mandados ordenavam a entrega do conteúdo de todos os emails enviados e recebidos, além dos rascunhos e mensagens apagadas, da editora de investigações do WikiLeaks, Sarah Harrison; da porta-voz da organização, Kristinn Hrafnsson; e do editor sênior Joseph Farrell. Estavam incluídos, ainda, os endereços eletrônicos dos remetentes e destinatários de cada email, além de data e hora do envio. O FBI também ordenou a entrega de todos os registros associados a contas de internet usadas pelos três, incluindo números de telefone, endereços de IP, detalhes sobre suas atividades online, números de contas bancárias e de cartões de crédito.
Respeito às leis
“Sinto-me enojada em saber que o FBI leu as palavras que eu escrevi para consolar minha mãe sobre a morte de um parente”, afirmou Sarah Harrison, que, além de trabalhar para o WikiLeaks, também dirige a Courage Foundation, organização de proteção a vazadores. A editora, que é britânica, acusa o Google de ajudar o governo americano a ocultar a invasão de privacidade a seus dados e mensagens pessoais. “Nem o Google nem o governo dos EUA estão honrando suas leis ou retóricas sobre a privacidade e a proteção à imprensa”, declarou.
O Google afirmou ao jornal britânico The Guardian que não se pronuncia sobre casos individuais. Um porta-voz da companhia declarou apenas que o Google “segue as leis como qualquer outra empresa”. Acredita-se que os dados obtidos pelas autoridades americanas façam parte de uma investigação conjunta dos Departamentos de Justiça, Defesa e Estado sobre o WikiLeaks aberta em 2010, depois que a organização publicou centenas de milhares de documentos secretos do governo.