Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

A liberdade de imprensa em declínio

A organização Repórteres Sem Fronteiras divulgou [12/2] a edição de 2015 de seu Ranking Mundial de Liberdade de Imprensa, em que avalia o desempenho de 180 países. O ranking anual é baseado em quesitos como independência e pluralidade da mídia, cuidados com a segurança e respeito pela liberdade dos jornalistas, e a qualidade do ambiente em que as organizações de mídia operam.

De acordo com os dados compilados pela organização, a liberdade de informação sofreu um grave declínio em 2014. Pelo menos dois terços dos países pesquisados – em todos os continentes – tiveram uma piora em seu desempenho com relação à edição anterior.

A Eritreia ficou em último lugar no ranking, precedida por Coreia do Norte e pelo Turcomenistão. Já as três primeiras posições foram ocupadas por países escandinavos. A Finlândia está no primeiro lugar há cinco anos, seguida pela Noruega e pela Dinamarca.

O Brasil foi elogiado pela organização – ficou na 99ª posição, subindo 12 lugares no ranking. “[O Brasil] ficou acima da marca simbólica do 100º lugar graças a um ano menos violento, com a morte de dois jornalistas, em comparação a cinco mortes no ano anterior”.

Deterioração

Também na América do Sul, a Venezuela caiu 20 posições, ficando em 137º lugar, depois que a Guarda Nacional Bolivariana abriu fogo contra jornalistas claramente identificados durante manifestações.

A Itália ficou na 73ª posição, caindo 24 lugares, depois de um ano complicado para jornalistas com ameaças vindas da máfia e o aumento no número de processos por difamação injustificados.

A explosão de conflitos em diversas regiões, como Oriente Médio, Ucrânia, Síria e Iraque, representa uma ameaça à imprensa, usada muitas vezes como ferramenta de propaganda. Por outro lado, veículos independentes são sufocados e jornalistas tornam-se alvos de grupos terroristas, como é o caso do Estado Islâmico, responsável pelo sequestro e assassinato de profissionais de imprensa nos últimos meses.

A Rússia caiu quatro posições no ranking, ocupando o 152º lugar, por conta da aprovação de leis rigorosas, do bloqueio de sites e do aumento do controle sobre veículos de mídia.

Os Estados Unidos também enfrentaram queda na lista. O país caiu três pontos, ocupando a 49ª posição, devido à batalha do governo contra vazadores de informações. Talvez o caso mais emblemático seja o do jornalista James Risen, do New York Times, que enfrentou dura pressão, por anos, para revelar suas fontes. Por fim, o governo acabou desistindo do caso de Risen, mas sua luta contra profissionais e organizações como a WikiLeaks continua.

Mídia alternativa

Em artigo no GigaOm, o jornalista de mídia Mathew Ingram avalia a importância das mídias sociais diante das ameaças aos veículos tradicionais. “Nós vemos a pressão que jornalistas e a mídia sofrem de governos em todo o mundo quando profissionais são presos em países como o Egito, ou assassinados, ou silenciados de várias outras maneiras. Mas apenas quando temos uma visão global como a do Ranking Mundial de Liberdade de Imprensa se torna claro como a imprensa livre se tornou ameaçada”, reflete.

“Este tipo de análise reforça, se mais nada, a necessidade e a importância de se ter formas alternativas de mídia e discurso, seja pelo Twitter, YouTube e Instagram ou por uma entidade como o WikiLeaks. Estas plataformas podem ser bloqueadas e seu conteúdo banido pelos governos, mas é difícil de fazê-lo”. Ingram diz que estas plataformas alternativas de comunicação acabam forçando os governos repressivos a ir atrás de cada indivíduo que posta uma foto ou um vídeo, o que torna o trabalho de controle sobre a informação muito mais complicado.