Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Julian Assange, gênio do mal

“Não era necessário ouvir por muito tempo as fracas condenações de Julian Assange ao ‘complexo militar-industrial’ americano para saber que ele estava louco para trair pessoas melhores e mais corajosas do que ele.” A frase é do jornalista Nick Cohen, colunista do jornal britânico Observer, em artigo [18/9] – obviamente – contrário ao fundador do site WikiLeaks. Longe de ser um “campeão da liberdade”, diz Cohen, Assange é “um perigo real para aqueles que realmente buscam a verdade”.

Exagero? Assim que recebeu os telegramas do Departamento de Estado dos EUA, diz o colunista, Assange não considerou preservar as identidades dos opositores a regimes e movimentos ditatoriais que pudessem aparecer nos documentos. Não importava que os alvos do Talibã, por exemplo, estivessem lutando contra uma força fascista-religiosa que ameaçava qualquer valor de liberdade e democracia – se tinham falado com diplomatas americanos, haviam colaborado com “o grande Satã”.

Cohen cita um caso contado no livro WikiLeaks: Inside Julian Assange’s War on Secrecy, escrito por David Leigh e Luke Harding. Jornalistas se encontraram com Assange em um restaurante de Londres para conversar. Eles temiam que o ativista arriscasse a vida de afegãos que haviam cooperado com o Exército americano se divulgasse documentos sigilosos do governo dos EUA sem a precaução de remover seus nomes. O fundador do WikiLeaks teria respondido: “Bem, eles são informantes. Então, se forem mortos, fizeram por onde”. Houve silêncio na mesa enquanto os jornalistas entendiam que aquele homem celebrado com o pioneiro de uma nova era de transparência estava disposto a basicamente entregar de bandeja a psicopatas listas de possíveis alvos, diz o colunista.

Cohen continua:

“Hoje, é difícil de acreditar, mas pessoas honestas já trabalharam para o WikiLeaks pelas razões certas. Como eu, elas viam o site como um refúgio; um espaço protegido onde poderiam ser publicadas histórias que, de outro modo, seriam suprimidas por censores autoritários e advogados em processos por calúnia e difamação.

“James Ball era uma delas – pensou que, com sua pequena contribuição, estava tornando o mundo um lugar melhor. Ele percebeu que o WikiLeaks não era o que parecia ser quando um sócio de Assange – um homem forte com um bigode grisalho que dizia se chamar ‘Adam’ – perguntou se ele poderia juntar tudo o que os documentos do Departamento de Estado tivessem ‘sobre os judeus’. Ball descobriu que ‘Adam’ era na verdade Israel Shamir, um homem perigoso que usava seis nomes diferentes para participar de grupos antissemitas de extrema direita e extrema esquerda. Além de estimular teorias de conspiração fascistas, Shamir estava feliz em colaborar com a decadente ditadura brezhneviana da Bielorrússia. Tirania de esquerda ou de direita, desde que fosse anti-Ocidente e anti-Israel, Shamir não ligava.

“Assange também não ligava. Fez de Shamir o representante do WikiLeaks na Rússia e Europa Oriental. Shamir elogiava a ditadura bielorrussa e comparava manifestantes pró-democracia espancados e detidos pela KGB a hooligans; Em 19 de dezembro de 2002, o jornal estatal Belarus-Telegraf afirmou que o WikiLeaks havia permitido que a ditadura identificasse os ‘organizadores, instigadores e desordeiros, incluindo os estrangeiros’, que haviam protestado contra eleições fajutas.”

Vidas em risco

O jornalista Argaw Ashine deixou a Etiópia na semana passada depois que o WikiLeaks revelou que ele havia conversado com um funcionário da embaixada americana em Adis Abeba sobre os planos do regime para intimidar a independência da imprensa no país. O site também revelou que foi um funcionário do governo que contou a Ashine sobre o plano de ataque a jornalistas. “Assim, Assange e seus colegas não apenas botaram em risco o jornalista. Informaram à polícia que ele tinha uma fonte no aparato do Estado”, diz Cohen.

Ele acredita que deva haver uma pressão sobre “socialites socialistas” que apoiam Assange, como a ex-modelo e ativista Bianca Jagger e o cineasta Ken Loach. São homens e mulheres que “não conhecem o medo em suas vidas”, diz o colunista. “Ainda assim, ficam felizes em deixar seus nomes serem usados por Assange enquanto ele leva o medo às vidas de outros”.

Cohen apresenta Assange como um ativista vaidoso preocupado com sua imagem. “A internet o tornou famoso. Ela permite que ele monitore seu nível de celebridade – já me foi dito que até o menor post em um blog sobre ele atrai sua atenção. Quando vê que o público está ficando cansado, a internet dá a ele os meios para publicar novos segredos e gerar novas manchetes. Sob o pretexto de responsabilizar aqueles que estão no poder, ele pode se aproveitar da internet para colocar vidas em risco e garantir que consiga ser o que sempre quis: o centro das atenções”.