Friday, 08 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Tempo de mudança no New York Times

“Às nove horas da manhã de seis de setembro, Jill Abramson seguia de metrô de seu loft em Tribeca na direção norte de Manhattan. Era seu primeiro dia como editora-executiva do New York Times, e também a primeira vez nos 160 do jornal que o nome de uma mulher apareceria no topo do expediente. Abramson se descreveu como ‘excitada’, por causa da história que estava prestes a fazer, e ‘um pouco nervosa’, porque sabia que muitos na redação a temiam.”

Assim tem início o perfil da jornalista Jill Abramson publicado na New Yorker [24/10/11]. Assinado por Ken Auletta, o longo texto narra o primeiro dia da primeira mulher a comandar o Times em seu novo posto. Jill substituiu o editor-executivo Bill Keller. Ela entrou no jornal em 1997, virou editora em Washington dois anos depois e, em 2003, assumiu o posto de chefe de redação. Keller, que em 2003 substituiu o editor-executivo Howell Raines com o objetivo de ajudar a redação a se recuperar do escândalo do repórter-plagiador Jayson Blair, vai se dedicar ao jornalismo em tempo integral e continuará a escrever para a revista do diário.

Auletta narra todo o caminho de Jill, do metrô, pelo elevador do Times, passando pelos poucos repórteres que já haviam chegado e observavam em silêncio a entrada da nova chefe, até o momento em que ela coloca sua bolsa na mesa que ocupa na redação. O momento é, de fato, histórico e simbólico. Conta o artigo:

“Quatro décadas atrás, mulheres e minorias eram cidadãos de segunda classe no jornal. De acordo com o livro The Girls in the Balcony: Women, Men, and the New York Times, de Nan Robertson, apenas 40 dos 425 repórteres do Times eram mulheres, e isso não incluía uma única correspondente nacional. Não havia fotógrafas, colunistas ou membros do conselho mulheres. Nenhum único jornalista negro passava da posição de repórter.

“No fim da década de 70, após enfrentar múltiplos processos que alegavam discriminação contra mulheres e minorias, a companhia se tornou mais agressiva em promover e recrutar funcionários que não fossem homens brancos. Em 2010, 41% dos editores e supervisores eram mulheres; pouco menos de 20% de todos os funcionários eram minorias; e 13% das posições de supervisão eram ocupados por minorias”

Em junho deste ano, o publisher do Times, Arthur Sulzberger, Jr, anunciou que Jill ocuparia o posto de editora-executiva e que o jornalista Dean Baquet, que é negro, seria o novo chefe de redação do jornal. Muito mudou em 40 anos.

No primeiro dia de Jill no cargo, havia, na mesa da nova editora-executiva, um envelope com a palavra “Parabéns”. Ela o abriu e lá estava um bilhete de uma editora do Times acompanhado de uma carta de uma menina de nove anos chamada Alexandra Early, que a escreveu quando estava brava com a televisão: “É porque eu sou uma garota e não existem muitas garotas super-heroínas na TV”. O bilhete dizia: “Onde quer que Alexandra Early tenha ido parar, eu espero que ela tenha ouvido sobre seu novo emprego”.

O perfil completo de Jill Abramson na New Yorker pode ser lido aqui (em inglês).

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