A agência de notícias chinesa Xinhua produz dois tipos de material: há os textos que vão para o público e os que são para consumo exclusivo dos líderes do país. Ainda que os controles sobre a mídia tenham afrouxado um pouco nos últimos anos, o governo comunista segue obtendo informações através de ‘relatórios secretos’ feitos por jornalistas da agência oficial.
Muitos dos grandes jornais do país também produzem versões confidenciais de notícias consideradas sensíveis demais para ir à público. Não há nelas dados sigilosos da inteligência chinesa ou nada do tipo; são simplesmente reportagens sobre questões que, em países democráticos, estariam nas primeiras páginas dos jornais: queixas da população, notícias econômicas negativas, delitos administrativos e críticas feitas por países estrangeiros.
As informações acima são da revista britânica Economist [17/6/10], que teve acesso a um discurso em que o jornalista Xia Lin, editor sênior da Xinhua, aborda o tema. A fala de Lin, datada do mês passado, foi vazada na internet por um membro da platéia – e rapidamente removida por censores.
Epidemia
Um exemplo grave deste processo de relatórios confidenciais da imprensa controlada pelo governo – chamado de ‘neican’ – ocorreu em 2003. O primeiro documento produzido pela Xinhua sobre a SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave) só chegou aos líderes do país em fevereiro – então, cerca de 300 casos e cinco mortes pela doença já haviam ocorrido. Dois dias depois, o governo divulgou a notícia e avisou a Organização Mundial de Saúde sobre o problema.
Mas foi só em abril que as autoridades permitiram que a imprensa nacional reportasse livremente sobre o caso. Quanto mais notícias eram publicadas, mais relatórios sigilosos eram produzidos. De abril a julho de 2003, a Xinhua divulgou mais de 2.700 textos sobre a SARS em chinês, ao mesmo tempo em que produziu mais de mil documentos secretos e mais de seis horas de material confidencial de áudio e vídeo. A cultura do sigilo de informações da China é amplamente responsabilizada pela disseminação da SARS – cerca de oito mil pessoas foram contaminadas pela doença, que deixou quase 700 mortos em 29 países.