Há duas semanas, Arthur S. Brisbane, ombudsman do New York Times, alertou sobre uma possível bolha de exploração de gás de xisto nos EUA. Em sua última coluna (31/7), ele analisa especificamente um artigo de capa sobre o tema, publicado no dia 27/7, com base em e-mails trocados entre 2009 e 2011 com a Administração de Informação de Energia (EIA, sigla em inglês), contendo alguns conteúdos modificados para proteger a fonte. Nestas mensagens, foi revelado que membros da agência duvidavam das altas expectativas de exploração do gás de xisto levantadas pela unidade do Departamento de Energia.
As questões levantadas pelos e-mails deixaram uma nuvem de dúvidas sobre a EIA. O atual administrador do órgão, Howard K. Gruenspecht, chamado para depor no comitê de Recursos Naturais e Energia do Senado, disse que os e-mails foram, “em sua maioria, para e de uma pessoa contratada pela EIA em 2009 como estagiário e que foi galgando posições no órgão”. “Os e-mails, do modo como foram redigidos pelo NYTimes, forneceram informações imprecisas no seu contexto”, disparou.
Joseph Burgess, assistente de Brisbane, obteve cópias dos e-mails com seu conteúdo completo e comparou com as versões alteradas – chegando à conclusão que os problemas eram clássicos dos associados com fontes anônimas. No artigo, os leitores não foram informados do cargo atual ou da identidade dos destinatários dos e-mails. Sem uma ampla descrição das fontes, eles nunca poderiam julgar por si próprios os méritos do que foi revelado. O estagiário em questão era C. Hobson Bryan que, em 2001, tornou-se engenheiro geral do órgão.
De estagiário a “funcionário oficial”
O repórter que escreveu o artigo, Ian Urbina, e seus editores – o editor nacional Richard L. Berke e seu subeditor, Adam Bryant — disseram que a maioria das citações publicadas veio de diferentes oficiais do órgão. “Nosso objetivo é publicar a maior quantidade possível de informações, redigidas ou não, e temos a intenção de manter este objetivo”, explicou Bryant. Os jornalistas também notaram que, das 25 páginas de e-mails postadas online, apenas 11 eram do período em que Bryan era estagiário.
Na semana passada, depois da publicação da matéria, o jornal decidiu publicar os e-mails sem as alterações, pois o EIA optou por deixá-los sob domínio público. Quando publica material anônimo, o jornal pede que o leitor confie nele. Mas, se esta confiança é quebrada – com o fato, por exemplo, de se descobrir que um funcionário oficial era na verdade um estagiário, a confiança não será a mesma na próxima vez, alerta o ombudsman.