Thursday, 14 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

A “hamsterização” do jornalismo multimídia

Artigo publicado na semana passada na Wired fala sobre a “hamsterização” do jornalismo americano. Trata-se do jornalismo multimídia e multitarefas – cada vez mais comum – que exige que um repórter de jornal se desdobre para, além de escrever suas matérias no papel, blogar, videoblogar, postar no Facebook, fazer podcasting, publicar fotos na internet e twittar. O termo foi usado pela Comissão Federal de Comunicações dos EUA (FCC, na sigla em inglês) para definir o aumento contínuo de tarefas digitais no rotina dos jornalistas.

Em um relatório sobre as necessidades de informação nas comunidades e as mudanças no cenário da mídia diante da era da banda larga, a FCC lembra que este aumento de tarefas ocorre em grande parte por conta do enxugamento das redações. “Estas responsabilidades adicionais – e ter de aprender as novas tecnologias para executá-las – consomem mais tempo e vêm com um custo. Em muitas redações, o jornalismo à moda antiga – do tipo em que o repórter vai às ruas falar com as pessoas ou sondar membros do governo – tem sido, por vezes, substituído pelas buscas na internet”, alerta o estudo.

Volume pelo volume

A comparação com o hamster tem relação com a roda colocada nas gaiolas dos pequenos roedores domesticados para que eles se exercitem. O fechamento sem fim nas redações – em que depois de entregar a matéria para o formato impresso é preciso inseri-la nos outros formatos – lembraria o movimento sem fim dos ratinhos correndo dentro da roda. A observação foi feita originalmente em um artigo do jornalista Dean Starkman na Columbia Journalism Review. O relatório da FCC cita Starkman, afirmando que a roda na gaiola do hamster não tem a ver com velocidade, e sim com movimento. “É o movimento pelo movimento… o volume sem consciência. É o pânico das notícias, falta de disciplina, a inabilidade de dizer não”. Ele continua: “A roda do hamster são as investigações que você nunca vai ver, o bom trabalho por fazer, o serviço público não executado”.

As observações de Starkman impressionaram Steven Waldman, jornalista que coordenou a equipe responsável pelo relatório da FCC. “Como eu agora trabalho no governo federal, decidi burocratizar um pouco a expressão”, brincou. “E agora nos referimos a isso como ‘hamsterização’”. Informações de Matthew Lasar [Wired, 13/6/11].