Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

A importância da matemática no jornalismo

Uma matéria recente do Washington Post informava que US$ 667 mil do US$ 1,3 milhão que o Exército de Salvação de Washington arrecadou durante seu evento anual Red Kettle, em 2009, vinham de locais de coleta em frente à rede de supermercados Giant. ‘É um pouco menos que a metade do total arrecadado pelo grupo na ocasião’, dizia o jornal. Um leitor escreveu para corrigir que foi um pouco mais da metade e para reclamar que erros do tipo afetam a credibilidade da informação.

Uma análise das correções publicadas nos últimos três meses mostra que foram poucos os dias que ficaram sem uma correção de números, comenta em sua coluna [26/11/10] o ombudsman Andrew Alexander. Alguns dos erros foram relacionados a estatísticas; outros, à matemática. Muitos são simples falta de atenção, como o da semana passada em uma matéria que informava que as regras de planos de saúde afetariam 180 americanos – e não 180 milhões. ‘É incrível o que um erro numérico pode causar. Quando uma organização de mídia divulga de maneira imprecisa que uma grande empresa perdeu bilhões de dólares em vez de milhões, a matéria inteira vai por água abaixo’, opina o jornalista Craig Silverman, que rastreia erros da imprensa em seu site Regret the Error.

Na era digital, com uma crescente quantidade de informações disponíveis online, a precisão numérica nunca foi tão importante. ‘Os jornalistas de hoje não podem mais cobrir apenas o incêndio e a reunião na prefeitura. Eles têm de explorar o que está por trás daquela história e isto envolve, frequentemente, a matemática’, defende Scott R. Maier, professor de jornalismo da Universidade do Oregon.

Fobia de contas

No entanto, existe nas redações uma fobia de números tão enraizada que é comum a piada de que jornalistas não sabem fazer contas. ‘Temos uma cultura na qual podemos dizer que somos jornalistas e, portanto, terríveis em matemática’, diz Silverman. É o que também pensa Sarah Cohen, ex-editora do Post. ‘Achamos charmoso quando alguém na redação diz que não sabe fazer contas’, afirma. ‘Nunca entendi por que achamos isto algo bom, e escrever nomes de maneira errada, ruim’.

Em um estudo realizado há uma década na Universidade da Carolina do Norte por Maier, o professor analisou as habilidades matemáticas de um grupo de jornalistas. Sua equipe recebeu um teste e a maioria demonstrou competência básica. Mas em grupos focais com os mesmos jornalistas, houve um desconforto geral, uma falta de confiança em lidar com os números. ‘Eles claramente tinham a habilidade, mas também a autopercepção de que não poderiam fazer contas’, explicou. ‘Acredito que, ao se deparar com números, os jornalistas não questionam e abrem mão da investigação’.

Muitas redações promovem treinamento em matemática, mas isto não vem sendo feito no Post. Com cada vez mais números em reportagens e gráficos, o jornal deveria dar mais valor a esta habilidade quando for contratar funcionários, diz o ombudsman.