A revelação do New York Times de que o diário segurou informações sobre a ligação do empreiteiro americano Raymond Davis com a CIA gerou uma onda de comentários de leitores, escreve, em sua coluna [26/2/11], o ombudsman Arthur S. Brisbane. Davis, que trabalha para a CIA como terceirizado, foi acusado de assassinato depois de ter atirado em dois paquistaneses em Lahore, no dia 27/1. Ele alega que os homens o perseguiam em uma moto para roubá-lo, e os tiros foram em legítima defesa
O NYTimes correu para apurar a matéria, mas, no dia 8/2, o porta-voz do Departamento de Estado, P.J. Crowley, entrou em contato com o editor-executivo, Bill Keller, com o pedido de não especular ou reciclar acusações que viessem a repercutir na imprensa paquistanesa. ‘Sua preocupação era que as letras C-I-A em um artigo no NYTimes, mesmo como especulação, seriam mal-vistas no Paquistão’, contou Keller. Crowley afirmou que o governo dos EUA estaria preocupado com a segurança de Davis enquanto ele estava sob custódia paquistanesa e esperava evitar inflamar a opinião pública e tentar criar ‘uma atmosfera o mais construtiva possível’, enquanto trabalhava para resolver a crise diplomática.
Acordo
O acordo com organizações de mídia americanas, incluindo AP, Washington Post e New York Times, ficou firme até a semana passada. Mas, no domingo, o jornal britânico Guardian, citando um funcionário de inteligência paquistanês, informou que Davis trabalhava para a CIA e que as organizações de notícias sabiam disso, mas mantiveram a informação em segredo a pedido do governo de Barack Obama.
Ainda assim, o Departamento de Defesa fez mais um pedido – que o NYTimes e outros veículos esperassem 24 horas para que os EUA trabalhassem para garantir o compromisso das autoridades do Paquistão de colocar Davis em um local seguro. O NYTimes atrasou um pouco mais, mas, na segunda-feira, publicou uma matéria informando que Davis trabalhava para uma equipe de inteligência liderada pela CIA para monitorar grupos militantes. Foi mencionado o acordo para segurar informações sobre a relação de Davis com a agência a pedido do governo.
No Exército, há um cálculo entre a perda de uma vida com o ganho de um objetivo. No jornalismo, não existe algo equivalente. Editores não estão em posição de julgar se uma matéria vale uma vida. O veterano jornalista Bob Woodward, que escreveu sobre operações secretas no Paquistão no livro As Guerras de Obama, afirma que o caso Davis é apenas a ponta de um iceberg de uma luta secreta intensa dos EUA na região. ‘Eu acho que a natureza agressiva da cobertura é boa, porque você está vendo apenas parte do que está ocorrendo’, diz ele. ‘Mas você não quer que alguém acabe morto. Eu aprendi, há muito tempo, que primeiro vêm as considerações humanitárias; depois, o jornalismo’, pondera.