Wednesday, 13 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

A mídia como caminho para o poder

O número de veículos de imprensa aumentou consideravelmente no Egito desde a revolução que levou à queda do presidente Hosni Mubarak, em fevereiro deste ano. Mas críticos alertam que, mais do que um sinal de liberalização, eles são um indício de como a mídia egípcia se transformou rapidamente em uma ferramenta de manobra política.

 Desde os protestos que derrubaram o governo há 30 anos no poder, cerca de 30 canais independentes foram lançados ou solicitaram licença para funcionar. O número de jornais também cresceu consideravelmente. “De repente vemos novos canais por satélite e jornais e não sabemos quem os financia”, diz o editor Gamal Zayda, do al-Ahram, um dos três principais jornais do governo. “Estamos passando por um período de transição e quem for dono da mídia estará em vantagem para influenciar a opinião pública no Egito. Eles vão influenciar as eleições e a constituição”.

A rede estatal União de Rádio e Televisão Egípcia, que continua a atuar como principal provedora de notícias, análises e conteúdo de entretenimento no país, foi enfraquecida por conta da cobertura parcial favorável ao regime de Mubarak.

E, ainda que haja um código de ética jornalística e órgãos regulatórios para o setor de telecomunicações, estes não gozam de total independência, deixando ao governo as decisões finais. No caso da mídia impressa, não há órgão regulatório.

Jornalistas se queixam que muitos empresários que apoiaram a revolução só queriam a saída de Mubarak para ganhar seu espaço de controle na sociedade. A escritora feminista Nawal El Saadawi diz que continua a ser censurada e muitas vezes é proibida de escrever sobre política ou de participar de programas de entrevistas. Ela acredita que a situação piorou por conta dos esforços destes empresários tentando ampliar seus poderes através da mídia.

Outro problema visto por ativistas é a decisão do conselho militar, no mês passado, de reinstalar o Ministério da Informação. O órgão foi fechado durante a revolução porque era visto como um veículo para reprimir a dissidência, além de ser território dominado por Safwat Sherif, um dos líderes do antigo regime.

Poder pulverizado

Em meio a esta bagunça, empreendedores tentam criar o que consideram ser uma mídia verdadeiramente independente. Hisham Kassem, antigo publisher do jornal Al Masry Al Youm, lançado em 2004, e um forte defensor do jornalismo independente, está montando uma redação unificada com o objetivo de combinar operações de televisão, internet e mídia impressa. A ideia de sua empresa é evitar que cada acionista tenha mais de 10% dos negócios, o que evitaria poder editorial demais na mão de uma só pessoa.

“O maior problema [nas empresas de mídia egípcias] é a estrutura de um único dono, como acontece também na Rússia e outros países onde há um colapso de um regime autoritário”, afirma o jornalista, ressaltando que os empresários egípcios creem que investir na mídia é comprar um ingresso para o poder político.

Kassem já atraiu 17 acionistas, mas é cuidadoso com as ofertas que recebe – principalmente as que vêm de líderes de partidos políticos e candidatos à eleição. Ele conta que deixou o Al Masry Al Youm em 2006 em grande parte por causa da interferência dos acionistas no conteúdo editorial do jornal. “Eu não gostava da estrutura dos acionistas. Estava em batalha constante com os proprietários. Eles simplesmente não entendem que não podem interferir no conteúdo”. Informações de Farah Halime [Financial Times, 6/9/11].