Cubana, doutora em Pedagogia, Lázara Rodriguez Alemán foi guerrilheira e lutou na clandestinidade contra o ditador Fulgêncio Batista. Depois da Revolução de 1959, tornou-se a primeira mulher correspondente de guerra do país.
Cobriu os conflitos em Gana, África, de 1964 a 1965, quando conheceu pessoalmente Che Guevara. Seus companheiros costumavam dizer que ela fora enviada para que os canibais africanos a devorassem e ela não pudesse voltar a Cuba para importuná-los. Lázara não apenas voltou inteira, como também, em 1989, foi correspondente da guerra civil em Angola e presenciou outros conflitos na África.
Atualmente, trabalha para o site Prensa Latina (www.prensa-latina.org) em Havana, e participou do 4º Encontro Mundial de Correspondentes de Guerra, realizado nos dias 18, 19 e 20 de outubro na capital cubana, onde concedeu esta entrevista, na qual conta um pouco de sua experiência de correspondente e fala sobre a situação da liberdade de imprensa em seu país.
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Como foi a sua experiência nos conflitos africanos?
Lázara Rodriguez Alemán – A guerra em Gana foi uma espécie de treinamento para as guerras que eu cobriria no futuro. Naquela época, eu tive a satisfação de conhecer o Che. Ele ia para o norte de Angola estabelecer contatos com os guerrilheiros locais para o que depois seria a guerrilha do Congo, que aconteceu de abril a novembro de 1965. Foi uma guerrilha curta por falta de incorporação dos africanos.
Em 1989, eu pedi para ser enviada a Angola e cobrir a guerra civil. O jornal aceitou e então eu estava novamente na África. Os meios de comunicação que eu utilizava para enviar as reportagens eram o teletipo e, às vezes, o telefone.
Um dos principais temas do 4º Encontro Mundial dos Correspondentes de Guerra foi a proteção dos jornalistas nos conflitos armados. Qual a sua avaliação sobre esse tema?
L. R. A. – Não existe proteção, mesmo para aqueles jornalistas que acompanham uma das tropas. Na guerra não se leva em consideração a função do jornalista porque neste momento você é um aparato das forças militares que acompanha. Você pode até ter uma certa ajuda, mas não está protegido. Eu acredito que cada vez mais os jornalistas são alvos nos conflitos porque são olhos que se multiplicam.
Quais são as principais características de um correspondente de guerra?
L. R. A. – Ser um jornalista na guerra é sofrer um risco conseqüente da atividade que se desenvolve. Requer-se valentia, audácia. Deve-se conhecer a importância dessa profissão para a sociedade. Mas a proteção não é possível simplesmente porque o jornalista está numa guerra e seus perigos são os mesmos de um soldado e de um civil.
Com guerra ou sem guerra, eu como jornalista, não posso deixar de informar o que eu vejo, o que considero que deve ser conhecido.
Para mim, jornalismo é compromisso. Sou doutora em pedagogia e professora. O jornalismo é um magistério que se amplia na medida em que é utilizado como meio de difusão. Ensinar é transmitir o conhecimento, a informação. No caso do jornalismo, é difusor e multiplicador porque transcende qualquer fronteira.
A Organização ‘Repórteres Sem Fronteira’ denuncia que Cuba é o pior país em relação à liberdade de imprensa. Segundo a ONG, atualmente, cerca de 20 jornalistas estão presos sem julgamentos por simplesmente haverem falado mal do governo. Qual a sua opinião?
L. R. A. – Se não há liberdade de imprensa em Cuba, como eles podem saber ou dizer essas coisas? Dizem porque vêem e fazem a sua interpretação. Agora, qual é a informação que eles querem que transmitamos? Aqui estão a CNN, a agência EFE, que têm a liberdade de transmitir o que querem, como querem. E isso não é liberdade de imprensa?
Mas para os jornalistas cubanos, existe liberdade de imprensa?
L. R. A. – O que se pode interpretar por liberdade de imprensa? Todos os países do mundo, inclusive os chamados mais democráticos, têm um mecanismo de controle que garante a difusão dos interesses dos governantes. O grande problema é que nós temos a particularidade de viver a 144 quilômetros dos Estados Unidos e somos para eles a peste. Para os norte-americanos a revolução deve desaparecer. Mas nós estamos guiados pelo pensamento de que ‘dentro da revolução tudo, fora da revolução nada’ porque esse é o nosso mecanismo de defesa, é a nossa própria existência.
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Jornalista