Trata-se de um caso clássico de saia-justa. O editor do New York Times Book Review, seção de resenhas literárias do jornalão, não sabe o que fazer com o livro que o ex-repórter Jayson Blair, fraudador responsável pela maior crise da história do Times, está publicando. Burning Down My Masters’ House reconta a trajetória de fabricações e plágios de Blair pelo jornal e deve estar nas livrarias americanas a partir de 6/3/04.
Charles McGrath, editor do caderno considerado o mais prestigioso do país, disse que o diário sai perdendo em qualquer das opções. ‘Se não resenharmos, parece que o Times está rejeitando autocrítica; se resenharmos, parece que se está dando atenção a algo que não parece merecê-la’, disse. McGrath afirmou não ter recebido nenhuma diretriz do editor-executivo, Bill Keller, sobre como abordar uma possível resenha. No dia 24/2, Keller enviou memorando interno dizendo que o jornal não reagiria ao livro.
Segundo Joe Strupp [Editor & Publisher, 24/2/04], McGrath, que disse receber cerca de 70 mil livros por ano, publicando resenhas de mais ou menos duas dúzias de obras por semana, afirmou haver muitos pontos a serem pesados para tomar a decisão. ‘Há obviamente o fator noticioso, e às vezes fatores noticiosos merecem destaque’, disse sobre o livro de Blair. ‘Ainda não me decidi sobre o assunto e, se resenharmos a obra, vocês poderão conferir no Review‘.
Impressões internas
O livro não gerou grandes protestos de defesa por parte do Times. Ao receber cópias antes do público, Bill Keller emitiu o já mencionado memorando interno, assinado também pelos co-editores-administrativos Jill Abrams e John Geddes. ‘O autor é um fabricador assumido’, escreveu Keller. ‘O primeiro capítulo começa: ‘Eu menti e menti – e depois menti mais um pouco’.’
‘O livro tenta ser um mea-culpa, mas acaba atirando culpas imaginárias para todo lado’, dizia o comunicado interno. Com informações de Keith J. Kelly [New York Post, 24/2].