A pesquisa do Pew Research Center que concluiu que 23% dos jornalistas nas redações americanas são liberais e apenas 12% são conservadores – quando na população como um todo a proporção é de 20% contra 33%, respectivamente – está dando o que falar. Ela endossa antigas reclamações de conservadores de que a mídia teria tendências esquerdistas e levou alguns editores a cogitar a aplicação de políticas de ação afirmativa para conseguir maior equilíbrio ideológico entre seus funcionários.
Em artigo para a Editor & Publisher [10/6/04], Greg Mitchell aponta uma série de questões que os dados da pesquisa suscitam e que precisam ser discutidas. Ele começa relativizando o posicionamento dos 547 entrevistados. A maioria deles se disse ‘moderada’. Mas o que significa isso? Muitos conservadores acreditam que quem se considera moderado é, na verdade, um esquerdista. Isso tornaria a desvantagem conservadora ainda maior nas redações.
A amostra do Pew não é tão grande e a pesquisa não se propõe a ser muito científica. Ainda assim, se os dados estiverem corretos, por que há mais liberais trabalhando no jornalismo? Os conservadores não se interessam pela carreira jornalística ou nem chegam a ser contratados porque os chefes são liberais? Ou será que eles se sentem mal em trabalhar num ambiente em que a maioria dos colegas tem outra visão política? Qual é a proporção entre direita e esquerda nas faculdades? Se for semelhante ao do mercado de trabalho, a desigualdade apontada pelo Pew se explica. Mas pode ser também que a universidade doutrine os alunos ideologicamente, ou seja, que conservadores que ingressam no ensino superior tenham sua visão mudada para liberal.