A Globonews apresentou no sábado e domingo (3 e 4/4) uma longa entrevista – autêntica entrevista-bomba – com o general Leônidas Pires Gonçalves, realizada e editada pelo repórter Geneton Moraes Neto.
O general Leônidas foi escolhido por Tancredo Neves para ser o seu ministro do Exército e foi mantido pelo vice, José Sarney, ao longo dos cinco anos do seu mandato.
Aos 88 anos, com a mesma vivacidade e contundência dos tempos em que estava na ativa, o general não acrescentou grandes novidades no tocante à repressão praticada durante a ditadura militar, mas esta contundência quase agressiva com que trata a questão torna a entrevista um documento que não pode passar despercebido.
Trinta e cinco anos depois da morte do jornalista Vladimir Herzog nos porões do DOI-CODI paulista, um general perfeitamente lúcido, à vontade, insiste na tese de que não foi tortura, foi suicídio. Ainda chama os exilados de ‘fugitivos’ e revela que o governo pagou a um dirigente do PCdoB pelas informações que resultaram na liquidação de três dirigentes do partido em dezembro de 1976. Guerra é guerra, diz ele.
Última palavra
A entrevista é surpreendente, chocante mesmo, porque traz de volta, sem meias palavras, eufemismos e reticências, um pedaço da nossa história que está sendo dissolvido e amenizado.
Na parte mais amena, o general Leônidas revela como praticamente forçou José Sarney a tomar posse no lugar de Tancredo Neves, em março de 1985. Ao lembrarmos que dois anos depois Sarney começou a manobrar para esticar o seu mandato por mais um ano, evidencia-se como o poder opera milagres e transforma pavores em ousadias.
Com exceção de um pequeno registro no Globo de domingo (4/4, pág. 15), o depoimento do general não provocou reações na imprensa. Nosso jornalismo tem grande respeito pelos domingos, feriados e, sobretudo, feriadões.
Importante registrar que além das réplicas do repórter Geneton Moraes Neto às afirmações do general Leônidas, o ‘Dossiê Globonews’ apresentou diversas intervenções de caráter informativo para evitar que a última palavra coubesse ao entrevistado.