Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Acadêmicos criticam disparidades em cobertura do ‘NYT’

Mais de 20 acadêmicos, escritores e cineastas americanos assinaram uma carta pedindo à ombudsman do New York Times que examine o que eles consideram inconsistências na cobertura de dois países latino-americanos. Os intelectuais alegam que existem disparidades entre as matérias amplamente negativas sobre a Venezuela e as reportagens bem menos críticas sobre Honduras.

O documento é assinado por professores especialistas em América Latina, além do filósofo e linguista Noam Chomsky e dos diretores Oliver Stone e Michael Moore. Eles pedem que Margaret Sullivan, a editora pública do Times, compare as duas coberturas do jornal sobre a Venezuela sob o comando do esquerdista Hugo Chávez – morto em março – e sobre a Honduras de Roberto Micheletti e Porfirio Lobo, de direita.

Segue a petição:

“Cara Margaret Sullivan,

Em uma coluna recente, você notou:

‘Ainda que palavras e frases soltas não contem muito no grande fluxo produzido diariamente, a linguagem é importante. Quando organizações de notícias aceitam o modo de falar do governo, elas parecem aceitar o modo de pensar do governo. No Times, estas decisões têm ainda mais peso.’

Diante deste comentário, nós a encorajamos a comparar a caracterização feita pelo New York Times da liderança de Hugo Chávez na Venezuela àquela de Roberto Micheletti e Porfirio Lobo em Honduras.

Nos últimos quatro anos, o Times se referiu a Chávez como um ‘autocrata’, ‘déspota’, ‘líder autoritário’ e ‘caudilho’ em sua cobertura. Quando peças de opinião são incluídas, o Times publicou pelo menos 15 artigos separados com tal linguagem, classificando Chávez de ‘ditador’.

Neste mesmo período – desde o golpe militar de 28 de junho de 2009, que derrubou o presidente Manuel Zelaya em Honduras –, colaboradores do Times nunca usaram estes termos para descrever Micheletti, que liderou o regime golpista após a saída de Zelaya, ou Porfirio Lobo, que o sucedeu.

Em vez disso, o jornal os descreveu em sua cobertura como ‘interino’, ‘de facto’ e ‘novo’.

Porfirio Lobo assumiu a presidência depois de vencer uma eleição realizada sob o governo golpista de Micheletti. O pleito foi marcado por repressão e censura, e monitores internacionais, como o Centro Carter, o boicotaram. Desde o golpe, as forças armadas e a polícia de Honduras têm rotineiramente matado civis.

Nos últimos 14 anos, a Venezuela teve 16 eleições ou referendos considerados livres e justos por autoridades internacionais. Jimmy Carter destacou as eleições da Venezuela, entre as 92 monitoradas pelo Centro Carter, como tendo ‘um sistema de votação magnífico’. Ele concluiu que ‘o processo eleitoral na Venezuela é o melhor do mundo’.

Ainda que alguns grupos de direitos humanos criticassem o governo de Chávez, a Venezuela nunca apresentou um padrão de forças de segurança estatais assassinando civis, como é o caso em Honduras.

Independente do que pensem das credenciais democráticas da presidência de Chávez – e nós reconhecemos que pessoas sensatas possam discordar sobre isso –, não há nenhum registro, quando comparado a Honduras, que justifiqueas discrepâncias encontradas na cobertura do Times sobre os dois governos.

Fazemos um apelo para que você examine estas disparidades na cobertura e na linguagem, particularmente porque elas podem parecer a seus leitores como bastante próximas às posições do governo americano sobre o governo hondurenho (que apoia) e o governo venezuelano (a que se opõe) – precisamente a síndrome que você descreve e sobre a qual alerta em sua coluna.”