A família da jornalista Anna Politkovskaya, morta em Moscou em outubro de 2006, pediu uma investigação ‘genuína’ sobre seu assassinato, após a Suprema Corte da Rússia ter ordenado um novo julgamento para os três homens acusados de envolvimento no crime, revertendo o veredicto inicial, que os havia declarado inocentes em fevereiro deste ano.
Dois irmãos chechenos, Dzhabrail e Ibragim Makhmudov, e um ex-policial de Moscou, Sergei Khadzhikurbanov, foram considerados inocentes da acusação de assassinato no primeiro julgamento e irão ao tribunal mais uma vez. Um quarto réu, Pavel Ryaguzov, da agência secreta russa FSB, acusado de fornecer o endereço da jornalista ao ex-político checheno Shamil Burayev, foi investigado e processado por abuso de poder e extorsão, mas não terá que ir a julgamento desta vez.
Os filhos de Anna, Ilya e Vera, declararam que as autoridades russas devem identificar a pessoa que ordenou a morte de sua mãe, baleada na cabeça no elevador do edifício onde morava. ‘A única maneira de ter progresso neste caso é enviá-lo de novo para investigação’, afirmou a família, em declaração publicada no sítio do Novaya Gazeta, jornal de oposição para o qual Anna trabalhava. ‘Estamos convencidos de que o assassinato não foi investigado devidamente, pois até agora os investigadores não encontraram a pessoa que ordenou o crime ou outros envolvidos.’
Sem culpados
O julgamento, que teve duração de quatro meses, foi classificado por críticos de uma ‘farsa vergonhosa’. Não foram apresentadas evidências cruciais do caso e investigadores não conseguiram identificar quem estava por trás do assassinato da jornalista ou prender o homem acusado de ter atirado em Anna – Rustam, terceiro irmão Makhmudov, hoje foragido. ‘Estamos mais interessados em [descobrir] quem foi o mandante do crime. É óbvio que a determinação de hoje foi baseada em uma decisão política. Para as autoridades, o mais importante é garantir que alguém vá para a prisão’, afirmou Sergei Sokolov, subeditor do Novaya Gazeta.
Anna era crítica ferrenha do Kremlin. Durante sua carreira, ela não poupou críticas a Ramzan Kadyrov, presidente checheno pró-Moscou, e ao então presidente – e hoje primeiro-ministro – russo Vladimir Putin. A advogada da família Politkovskaya, Karinna Moskalenko, disse achar extraordinário que os investigadores tenham fracassado em considerar a participação de Kadyrov no assassinato da jornalista. Ele nega que haja qualquer envolvimento.
Karinna também criticou a polícia por ignorar o fato de o assassinato ter ocorrido no dia do aniversário de Putin. ‘Este fato pode ou não estar relacionado ao crime. Mas não pode ser simplesmente ignorado’, diz. Três dias depois da morte de Anna, Putin diminuiu a importância dela no jornalismo russo, acrescentando, porém, que ela era ‘bem conhecida no Ocidente’. Posteriormente, ele disse que Anna era uma ‘crítica dura’ do governo russo, o que seria ‘bom’. Informações de Luke Harding [The Guardian, 25/6/09] e Lynn Berry [The Independent, 26/6/09].