Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Adeus, Michael. Olá, Shaheen

Era o funeral de Michael Jackson, e não se podia esperar nada menos: um megashow no principal ginásio de Los Angeles, com mais de oito mil ingressos – com direito a acompanhante – distribuídos em um sorteio e a presença, diante do palco, de um caixão banhado a ouro. O evento foi, é claro, transmitido pela TV. Nos EUA, mais de 31 milhões de telespectadores acompanharam ao vivo o funeral na terça-feira [7/9] – a transmissão foi feita por 18 canais.


Segundo o instituto de pesquisas Nielsen Media Research, este número não inclui as milhões de pessoas que devem ter assistido às homenagens a Michael Jackson pela internet ou nas – intermináveis – reprises televisivas. A companhia de internet Akamai, que cuida de 20% do tráfego online em todo o mundo, contabilizou 2.8 milhões de internautas acompanhando o funeral ao vivo por vídeo. Estima-se que, mundialmente, o público televisivo tenha passado de um bilhão de pessoas.


Dentro do Staples Center, em Los Angeles, cerca de 18 mil fãs, parentes e amigos do cantor presenciaram duas horas de discursos e performances musicais, incluindo as de Stevie Wonder, Mariah Carey – que desafinou bastante; segundo ela, por conta da emoção por estar diante do caixão de Michael – e Jennifer Hudson. Celebridades como as atrizes Brooke Shields e Queen Latifah e os jogadores de basquete Magic Johnson e Kobe Bryant falaram sobre suas relações e impressões do astro.


Sem máscara


O momento mais emocionante, entretanto, ficou por conta da filha do cantor, Paris, que tentou fazer um discurso sobre o pai, já ao fim do ‘show’. Tentando controlar o choro, conseguiu dizer apenas algumas palavras: afirmou que seu ‘daddy’ era o melhor pai que se possa imaginar, e que o amava muito. Em seguida, foi abraçada por todos os tios, que a acompanhavam no palco. Foi a primeira vez que o mundo ouviu a voz da menina que o pai tentava manter longe da mídia – com direito a máscara no rosto nas raras aparições públicas. Se o momento foi planejado ou espontâneo, nunca saberemos. Mas bastou para – depois de duas horas de música, vídeos e discursos sobre como o ‘rei do pop’ era talentoso e único – desmontar o circo: Michael era o pai de uma frágil menina de 11 anos que o amava e sentirá sua falta. Só isso. Em questão de segundos, Paris fez do excêntrico e incompreensível Michael Jackson um ser humano, mortal, um de nós.


Na CNN, o âncora Anderson Cooper, posicionado do lado de fora do Staples Center, fazia questão de ressaltar a importância daquele dia e como a transmissão deveria quebrar recordes de audiência. Não foi bem assim. O funeral de Jackson ficou abaixo dos funerais da Princesa Diana, em 1997 (33,2 milhões de telespectadores nos EUA) e do ex-presidente americano Ronald Reagan, em 2004 (35 milhões). Também foi pouco expressivo comparado ao dia da posse de Barack Obama, em janeiro (37,8 milhões) e da primeira coletiva de imprensa no novo presidente, no mês seguinte (49,5 milhões). Quando Michael foi inocentado da acusação de abuso de menores, em 2005, por um tribunal da Califórnia, a audiência chegou a 30,6 milhões.


Novo talento


Também na CNN, o veterano apresentador Larry King – que assistiu ao funeral de lugar privilegiado, convidado pela família do cantor – dava suas impressões. Havia ficado na terceira fila, contou, logo atrás de Berry Gordy, o fundador da Motown Records que assinou contrato com o Jackson 5 em 1968; e o caixão parecia ouro maciço. Mas o que mais impressionou King foi um menino que subiu ao palco e cantou brilhantemente a música Who’s Lovin’ You, composta pelo cantor Smokey Robinson e interpretada pelo Jackson 5 em 1969. O apresentador disse que chamou Gordy e perguntou quem era aquele, ao que o fundador da Motown respondeu que não sabia, mas que, se tivesse uma gravadora, o contrataria na hora.


Tratava-se de Shaheen Jafargholi, britânico de 12 anos que participou do show de talentos Britain’s Got Talent e que Michael Jackson havia visto no YouTube e convidado para participar dos shows que faria em Londres. King estava tão animado com o garoto que insistiu com Cooper para que descobrisse sua idade. Na noite de quarta-feira [8/7], lá estava Shaheen sendo entrevistado no programa do apresentador – que aproveitou para repetir o que Gordy havia comentado e ressaltou que ele tem um grande futuro pela frente. Estaremos acompanhando o nascimento de um novo Michael Jackson? Com informações da Reuters [9/7/09].

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Jornalista