Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Agência Carta Maior

CONTRA LULA
Editorial: Covardia, indecência e torpeza

‘A Folha tem todo o direito de ter suas preferências políticas e deveria fazê-lo de modo transparente, ao invés de transformar as páginas do jornal em uma usina de espertezas e vilanias. Mas não tem nenhum direito de reivindicar o interesse público como cúmplice dessa estratégia desesperada e enlouquecida. O único objetivo do referido artigo foi atingir o caráter do presidente da República na esperança de que isso possa ter repercussão na eleição presidencial de 2010. Isso é o que o jornal não pode confessar. E, a essa altura, nem precisa, dado que já é explícito. Práticas como esta, que infelizmente estão se tornando perigosamente freqüentes na imprensa brasileira, merecem total repúdio.

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No dia 1° de dezembro de 2009, o jornal Folha de São Paulo publicou uma ‘Nota da Redação’, de quatro linhas, para responder a uma crítica feita pela leitora Fabiana Tambellini, de São Paulo, sobre a publicação do artigo do sr. César Benjamin (em 27/11/2009), contendo uma grave acusação contra o presidente da República. Na carta enviada ao jornal, a leitora escreve:

‘É uma irresponsabilidade esta Folha publicar um artigo como o de César Benjamin, que envolve uma denúncia grave contra o presidente, sem ter feito nenhum trabalho de apuração dos fatos.Também chamam a atenção o silêncio e a ausência de posicionamento editorial do jornal. Afinal, o que a Folha pensa sobre o artigo e as informações que escolheu para publicar?’.

A tímida ‘Nota da Redação’ pretende responder tais perguntas. Ela afirma, laconicamente:

‘A Folha avaliou que era de interesse público publicar o artigo. Trata-se do depoimento de uma pessoa com credibilidade, que atuou na cúpula do PT e que narrava uma conversa com o então candidato à Presidência. O texto não afirmava que o ataque havia ocorrido, mas que o candidato relatara a ação’.

Após a leitura de tal manifestação, é difícil saber o que é mais preocupante: o jornal seguir defendendo a publicação do referido artigo, motivo de indignação em amplos setores da sociedade, ou a justificativa empregada para tal decisão, a saber, a defesa do ‘interesse público’. Em que sentido atacar a figura e a pessoa do presidente da República, o mais alto cargo do país, com uma acusação torpe e desprovida de qualquer tipo de prova, atende ao interesse público?

O uso da noção de interesse público para justificar a publicação é um escândalo. Um escândalo redobrado pela maneira insidiosa como foi semeada a acusação: no meio de um artigo que, supostamente, analisaria o filme sobre a vida de Lula, e no meio de uma série de três páginas sobre o mesmo tempo. A discrição do espaço dedicado ao ataque já sinaliza que os editores sabiam que aquilo precisava ficar escondido, que seria escancarado demais destacar um movimento de tal natureza. Seria preciso, então, adotar a lógica da fofoca, da infâmia e da covardia. Fazer um relato rapidamente, como quem não quer nada, usando a voz de outra pessoa para semear a suspeita e a desconfiança sobre a conduta do mais alto cargo da República. Sem apresentar nenhum indício de prova, sem ouvir antes as pessoas envolvidas no relato. Tudo, segundo a Folha, em nome do interesse público.

Como bem assinalou Washington Araújo, em artigo publicado aqui na Carta Maior, ‘poucas vezes encontramos na grande imprensa do país um ataque tão direto ao caráter de um presidente da República e o que mais impressiona que poucas vezes tivemos refutações tão veementes quanto à fidedignidade do ataque. Um pouco mais de apuração jornalística faria cair por terra o excesso de paixão ideológica que como sarampo vive contaminando amplos setores de imprensa. Afinal, a maior parte dos protagonistas do almoço citado por Benjamin está viva, e de facílima localização. Um celular e um pouco de vontade e mais umas pitadas de amor à verdade reduziriam aquela página A-8 inteira a rodapé de coluna social… ou policial’.

Mas por que é mesmo que a Folha desprezou seu próprio manual de redação?

A Folha tem todo o direito de ter suas preferências políticas e deveria fazê-lo de modo transparente, ao invés de transformar as páginas do jornal em uma usina de espertezas e vilanias. Mas não tem nenhum direito de reivindicar o interesse público como cúmplice dessa estratégia desesperada e enlouquecida. O único objetivo do referido artigo foi atingir o caráter do presidente da República na esperança de que isso possa ter repercussão na eleição presidencial de 2010. Isso é o que o jornal não pode confessar. E, a essa altura, nem precisa, dado que já é explícito. Práticas como esta, que infelizmente estão se tornando perigosamente freqüentes na imprensa brasileira, merecem total repúdio. Isso não é jornalismo. Muito menos, defesa do interesse público. As palavras que definem melhor esse comportamento são covardia, indecência e torpeza.’

 

José Arbex Jr. – Caros Amigos

A César o que é de César

‘Não por acaso, a Folha de S. Paulo cedeu o espaço todo pedido por Benjamin. Cederia mais, se necessário fosse. Benjamin conhece a teoria marxista e sabe, com Gramsci, que a mídia dos patrões é o verdadeiro organizador coletivo, é o grande partido do capital. Triste é o fato de ele ter arregaçado as mangas para trabalhar por tal partido. E pior: Benjamin sabe que o falso paralelo que tentou traçar entre os predadores das prisões da ditadura e o prisioneiro Lula seria muito mais verdadeiro se, no lugar de Lula, ele colocasse os donos dos jornais para os quais hoje escreve. O artigo é de José Arbex Jr.

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Quando comecei a ler o já famoso texto de César Benjamin: ‘Os filhos do Brasil’, publicado pelo jornal Folha de S. Paulo em 27 de novembro, fiquei orgulhoso de ser da esquerda. E mais ainda: de ter compartilhado com o autor do texto alguns momentos emocionantes de nossa luta comum, como o final da marcha do MST para Brasília, em 1997, quando me encontrei pessoalmente com ele, pela primeira vez. Os parágrafos iniciais do texto são primorosos. Muito bem escritos, compõem uma narrativa densa, sedutora, que vai criando no leitor uma vontade de querer saber mais sobre uma história que nunca foi contada direito: a história da ditadura militar, dos porões, das torturas, das prisões, dos seres humanos condenados à ignomínia. Benjamin soube retratar com grande humanidade os seus companheiros temporários de cela. Resgatou-lhes a história, a identidade, a face profundamente humana.

Mas aí, veio a facada, o golpe inesperado, a decepção, a tristeza profunda. Benjamin relatou, no mesmo texto, uma conversa supostamente mantida com Luís Inácio Lula da Silva, em São Paulo, em 1994, durante a campanha à Presidência do Brasil. Lula teria ‘confessado’, então, entre amigos, que, na prisão, tentou seduzir, sem sucesso, um militante de uma organização de esquerda. Benjamin faz uma comparação entre o assédio descrito por Lula e o temor que ele mesmo, Benjamin, sentiu, quando preso, de ser ‘currado’ por outros detentos.

Não entendi nada. Li de novo, reli, tentei buscar alguma ironia oculta, algo que justificasse, no plano do próprio texto, o absolutamente injustificável paralelo entre estupradores que pululam nas prisões brasileiras – em geral, seres humanos reduzidos a condições quase completamente animalescas pelo próprio sistema carcerário, e/ou por uma vida anterior mergulhada na mais profunda miséria econômica, ideológica e afetiva – e Lula, que não estuprou ninguém, mas que, supostamente, comentou ter sentido o desejo de manter relações sexuais com um companheiro de cela que não cedeu aos seus desejos. Não quis acreditar que alguém dotado com os recursos intelectuais de Benjamin, adquiridos ao longo de sua longa história de luta pela liberdade e pela dignidade humana, pudesse cair em um pântano tão sórdido e profundo. Mas não encontrei nada no texto de Benjamin que permitisse uma interpretação positiva. Ou melhor: encontrei ‘o’ nada: o vazio absoluto; vazio de sentido, o vazio da total falta de perspectivas, o vazio de um rancor desmedido.

(Antes de prosseguir, esclareço logo: não sou e nunca fui ‘lulista’; não sou mais, já fui petista; não simpatizo com a maioria das medidas de governo adotadas por Lula, e por isso sou totalmente favorável à crítica de esquerda ao seu governo. Mais precisamente, creio que Lula pode e deve ser criticado por aquilo que fez, mas acho muito estranho ele ser atacado por aquilo que NÃO praticou.)

Vamos agora considerar, por um segundo, que Lula realmente fez o que supostamente disse ter feito. Isto é, que em dado momento tentou seduzir – seduzir, note bem, não estuprar — o colega de cela. E daí? O que se pode concluir disso? Qual seria, nesse caso, o crime de Lula? O exercício, o desejo da homossexualidade? Estaremos, então, diante de um texto homofóbico?

Ainda segundo o próprio Benjamin, como já observado, Lula teria comentado o caso numa roda de amigos. Estamos, então, diante de um gravíssimo precedente, aberto pelo próprio Benjamin. De hoje em diante, todos teremos que suspeitar dos nossos amigos, teremos que nos policiar para que nossas palavras não sejam, eventualmente, atiradas contra nós por algum ‘traíra’, algum ‘dedo duro’, algum ‘cagueta’, algum Judas, algum oportunista que resolva tirar proveito de uma situação de cumplicidade. Revivemos, então, a era da delação (Premiada? Que o prêmio, no caso, teria sido pago a Benjamin?), a era da intriga, da fofoca, da futrica, da artimanha, da safadeza. Que vergonha! (Isso tudo me faz lembrar a famosa oração de Marco Antônio, no brilhante texto de Shakespeare: ‘Poderoso César, terás então descido a tão baixo nível?’).

Benjamin utilizou a imprensa dos patrões para atacar um expoente do movimento de esquerda do Brasil. Claro, claro, claro: sempre se pode alegar que Lula não é de esquerda, como ele mesmo já disse e como eu, pessoalmente, avalio. Mas há um abismo entre considerações de caráter individual, feitas por indivíduos privados e isolados, ou mesmo por grupos e seitas, e a realidade política concreta, historicamente determinada pela luta de classes. No contexto brasileiro, em que as alternativas concretas ao governo Lula (e à sua imagem refratada Dilma Rousseff) são figuras sinistras como as de José Serra e Aécio Neves, Lula surge como um expoente à esquerda do espectro político, com algumas conseqüências importantes para a luta de classes na América Latina: por exemplo, a condução exemplar do governo brasileiro no caso de Honduras (embora feiamente chamuscada pelo desastre no Haiti), a recusa em avalizar o acordo das bases militares estadunidenses com a Colômbia e a denúncia permanente do bloqueio de Cuba. Para não mencionar o fato de que a figura de Lula, malgré lui même, inspira movimentos de resistência ao capital em todo o mundo. Disso não se conclui, automaticamente, que a esquerda deva, necessariamente, apoiar o governo Lula, ou mesmo apostar na eleição de Dilma. Ao contrário, deve aproveitar as contradições, os paradoxos e as ambigüidades para fortalecer o seu próprio campo. Mas Benjamin preferiu fortalecer as correntes representadas pelo jornal dos campos Elíseos.

Não por acaso, a Folha de S. Paulo cedeu o espaço todo pedido por Benjamin. Cederia mais, se necessário fosse. Benjamin conhece a teoria marxista e sabe, com Gramsci, que a mídia dos patrões é o verdadeiro organizador coletivo, é o grande partido do capital. Triste é o fato de ele ter arregaçado as mangas para trabalhar por tal partido. E pior: Benjamin sabe que o falso paralelo que tentou traçar entre os predadores das prisões da ditadura e o prisioneiro Lula seria muito mais verdadeiro se, no lugar de Lula, ele colocasse os donos dos jornais para os quais hoje escreve.

Todo o encanto produzido pelos primeiros parágrafos do texto de César Benjamin foi transformado em fel a partir do momento em que se instaurou a delação, o oportunismo, o absurdo. Lula não estuprou o seu companheiro de cela, mas Benjamin violentou, com alto grau de sadomasoquismo, a própria consciência e uma história repleta de glórias. Requiescate in pace.’

 

Washington Araújo

Os filhos da verdade

‘Poucas vezes encontramos na grande imprensa do país um ataque tão direto ao caráter de um presidente da República e o que mais impressiona que poucas vezes tivemos refutações tão veementes quanto à fidedignidade do ataque. Um pouco mais de apuração jornalística faria cair por terra o excesso de paixão ideológica que como sarampo vive contaminando amplos setores de imprensa. Um celular e um pouco de vontade e mais umas pitadas de amor à verdade reduziriam aquela página A-8 inteira a rodapé de coluna social… ou policial. O artigo é de Washington Araújo.

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Causou-me estranheza a Folha de São Paulo ter concedido uma página inteira para o artigo do cientista político Cesar Benjamin na última sexta-feira, 27/11/2009. O artigo, aparentemente sem sentido, relatava com minúcias de detalhes os dias em que o autor passara detido nas dependências do DOPS em São Paulo, em 1980 e que, à mesma ocasião estivera preso o atual presidente da República, Luiz Inácio. O título também queria transparecer que se tratava de um texto, digamos, ameno. A Folha titulou-o como ‘Os filhos do Brasil’. Em espaço de quatro colunas encimava um fotograma do filme ‘Lula, o filho do Brasil’, cena em que o ator Rui Fabiano fala a uma extensa platéia de sindicalistas, interpretando o personagem-título do filme. A narrativa é fluida, vamos lendo, lendo e em alguns momentos parecemos estar rememorando os dias de prisioneiro de Graciliano Ramos em sua excelente obra ‘Memórias do cárcere’. No primeiro caso não há estilo literário, apenas exercício mental do autor que é loquaz em alguns pontos e completamente amnésico em outros.

Benjamin tenta uma moldura de veracidade para sua condição de ex-preso político, sabe de cor nomes de ex-detentos e chega a afirmar que acompanhou a trajetória de vários destes. Mas o que deseja Cesar Benjamin com esse texto? Simples. Benjamin quer atacar a honra de Lula tendo como gancho o filme de Fabio Barreto que, segundo a linha editorial da FSP, é um filme feito para gerar o mito, um filme que varre do roteiro qualquer coisa que empane o brilho do caráter personagem-título. E o articulista já depois de dois terços do caudaloso texto – afinal, leva página inteira da Folha – vai ao ponto: relata ter ouvido do próprio Lula que este em crise de abstinência sexual tentou subjugar um jovem preso, mas que foi repelido por ‘socos e cotoveladas’. Seria este jovem militante de organização de esquerda, o Movimento pela Emancipação do Proletariado.

É óbvio que tal artigo se posicionava como contraponto ao filme dos Barretos, inspirado no livro da jornalista Denise Paraná. O lançamento, a estréia mundial em Brasília, na abertura do 42o. Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, do qual fui jurado, teve superlotação do Teatro Nacional, manifestação pró-libertação de Cesare Battisti, preocupações exageradas com a segurança do local que abrigava cerca de 1.800 espectadores, 400 a mais que o permitido e que, segundo Luiz Carlos Barreto não contava com brigadistas dos bombeiros. A grande imprensa optou repercutir esses pontos e deixou de falar do filme e, quando queria falar do filme era pelo viés de se tratar de obra de propaganda fora de época. Como não surtiu efeito os queixumes da Folha e seus confrades midiáticos o jeito mesmo era buscar um texto que atentasse contra a integridade moral do personagem central do filme e, que obra do destino, ocupa o cargo de Presidente da República desde janeiro de 2003.

César Benjamin cita, em seu texto, uma testemunha, ‘um publicitário brasileiro que trabalhava conosco cujo nome também esqueci’. O ‘publicitário’ é o cineasta Silvio Tendler, que em 1994 trabalhou na campanha de Lula à presidência da República. Em entrevista ao jornalista Bob Fernandes, Tendler afirma: ‘Ele diz não se lembrar de quem era o ‘publicitário’, mas sabe muito bem que sou eu. Eu estava lá e vou contar essa história…’ E, então, Silvio Tendler conta o que viu e o que recorda daquele almoço em meio à campanha presidencial de 1994:

– Era óbvio para todos que ouvimos a história, às gargalhadas, que aquilo era uma das muitas brincadeiras do Lula, nada mais que isso, uma brincadeira. Todos os dias o Lula sacaneava alguém, contava piadas, inventava histórias. A vítima naquele dia era um marqueteiro americano. O Lula inventou aquela história, uma brincadeira, para chocar o cara… só um débil mental, um cara rancoroso e ressentido como o Benjamin, guardaria dessa forma dramática e embalada em rancor, durante 15 anos, uma piada, uma evidente brincadeira…

Para quem não sabe Silvio Tendler já fez cerca de 40 filmes, entre curtas, médias e longas-metragens. Além de vários prêmios é detentor das três maiores bilheterias de documentários na história do cinema brasileiro: ‘Anos JK’ (800 mil espectadores). ‘Jango’ (1 milhão de espectadores) e ‘O Mundo Mágico dos Trapalhões’ (1 milhão e 800 mil espectadores).

E não ficamos por aqui. Vejamos as falas de outros participantes do almoço onde foi servido o cozido que abasteceu o longo artigo do Cesar Benjamin.

O publicitário Paulo de Tarso da Cunha Santos, citado por Benjamin, afirmou que ‘o almoço a que se refere o artigo de fato ocorreu’, que ‘o publicitário americano mencionado se chamava Erick Ekwall’, e que não houve ‘qualquer menção sobre os temas tratados no artigo’. Ex-companheiros de cela de Lula no Dops, José Maria de Almeida (PSTU), José Cicote (PT) e Rubens Teodoro negaram a tentativa de estupro, tendo Almeida acrescentado que não havia ninguém do Movimento pela Emancipação do Proletariado na cela e Cicote se lembrado vagamente de que um sindicalista de São José dos Campos seria apelidado de ‘MEP’. Já Armando Panichi Filho, um dos dois delegados do Dops escalados para vigiar Lula na prisão, disse nunca ter ouvido falar disso e não acreditar que tenha acontecido, mesmo porque, segundo ele, nem sequer havia ‘possibilidade de acontecer’. O então diretor do Dops Romeu Tuma (atual Senador) também desmentiu ‘qualquer agressão entre os presos’.

O irmão de Lula, o conhecido como politizado da família Silva, o Frei Chico, lembrou que a cela do Dops era coletiva e que nunca Lula ficou sozinho, pois estava preso com os outros diretores do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo (Rubão, Zé Cicote, Manoel Anísio e Djalma Bom).

Como disse Tendler ao fim de sua entrevista ao Bob Fernandes, ‘…isso não tem, não deveria ter importância nenhuma. Só um débil mental, um cara rancoroso e ressentido como o Benjamin, guardaria dessa forma dramática e embalada em rancor, durante 15 anos, uma piada, uma evidente brincadeira…’

O Presidente do PSTU, José Maria de Almeida dividiu cela com Lula e declarou o seguinte: ‘O governo Lula é tragédia para a classe trabalhadora. Mas isso que está escrito não aconteceu. Benjamim viajou na maionese. Não lembro sequer de haver alguém do MEP conosco.’

Lula, de acordo com o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto de Carvalho, teria ficado triste e abatido, afirmando que isso era ‘uma loucura’ e o próprio Gilberto de Carvalho qualificou a acusação de ‘coisa de psicopata’ e recriminou a Folha por tê-la publicado, já o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, afirmou que o artigo é ‘um lixo, um nojo, de quem escreveu e de quem publicou’. Coube ao ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, atribuir ‘essa coisa nojenta’ aos ressentimentos e mágoas de Benjamin, que algum tempo depois deixaria o PT, mas não por causa desse episódio.

Para seguirmos o Manual da Folha… agora seria o exato momento para uma ampla entrevista – de preferência ocupando página inteira – com o cineasta Sílvio Tendler. Seria uma forma de reafirmar seu decantado compromisso com a verdade, seu apreço pelo ‘outro lado da notícia’ e seu interesse de bem informar os leitores. Aliás, quem conhece Cesar Benjamin e quem conhece Sílvio Tendler sabe que a verdade é sempre modesta e que esta não requer amplos espaços para se tornar referência.

Poucas vezes encontramos na grande imprensa do país um ataque tão direto ao caráter de um presidente da República e o que mais impressiona que poucas vezes tivemos refutações tão veementes quanto à fidedignidade do ataque. Um pouco mais de apuração jornalística faria cair por terra o excesso de paixão ideológica que como sarampo vive contaminando amplos setores de imprensa. Afinal, a maior parte dos protagonistas do almoço citado por Benjamin está viva, e de facílima localização. Um celular e um pouco de vontade e mais umas pitadas de amor à verdade reduziriam aquela página A-8 inteira a rodapé de coluna social… ou policial.

Washington Araújo é jornalista e escritor. Mestre em Comunicação pela UNB, tem livros sobre mídia, direitos humanos e ética publicados no Brasil, Argentina, Espanha, México. Tem o blog http://www.cidadaodomundo.org’

 

Marco Aurélio Weissheimer

Blogs expõem manipulação grosseira contra Lula

‘Durante boa parte da terça-feira, diversos jornais brasileiros e seus respectivos portais na internet exibiram em destaque uma suposta defesa do governador José Roberto Arruda (DEM), por parte do presidente Lula. A mesma versão foi repetida nesta quarta em várias regiões do país. O Blog do Planalto publicou ainda um desmentido da versão, com o vídeo da declaração de Lula. Como costuma acontecer, não mereceu o mesmo destaque. Mas alguns blogueiros trataram de expor uma manipulação grosseira.

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O blog do Nassif e o Vi o Mundo ajudaram a expor mais uma grosseira manipulação praticada ontem por diversos jornais e seus respectivos portais na internet. Durante boa parte da terça-feira, esses veículos exibiam em destaque uma suposta defesa do governador José Roberto Arruda (DEM-DF), por parte do presidente Lula. O blog do Planalto publicou ainda ontem um desmentido desta versão (com o vídeo da declaração de Lula)que, como costuma acontecer, não mereceu o mesmo destaque. O que o presidente da República disse sobre o caso foi o seguinte:

Jornalista: Presidente, como é que o senhor está acompanhando o escândalo envolvendo o governador Arruda, no Distrito Federal?

Presidente: Eu não estou acompanhando, eu não estou acompanhando, porque está na esfera da Polícia Federal. Se está na esfera da Polícia Federal, o Presidente da República não dá palpite. Espera a apuração, para depois falar alguma coisa. Vamos aguardar…

Jornalista: As imagens não falam por si ali, Presidente?

Presidente: Não, mas vamos aguardar. Imagem não fala por si. O que fala por si é todo o processo de apuração, todo o processo de investigação. Quando tiver toda a apuração, toda a investigação terminada, a Polícia Federal vai ter que apresentar um resultado final, um processo, aí anuncia. Aí você pode fazer juízo de valor. Mesmo assim, quem vai fazer juízo de valor final é a Justiça. O Presidente da República não pode ficar dando palpite, se é bom, se é ruim. Vamos aguardar a apuração.

O que o Globo publicou (e outros jornais e sites reproduziram)

‘Enquete: Leitores criticam declaração de Lula, de que ‘as imagens não falam por si’, no caso do governador Arruda’

A declaração do presidente Lula – de que ‘as imagens não falam por si’ no caso das denúncias de corrupção contra o governador José Roberto Arruda (DEM-DF) – foi alvo de críticas dos leitores do site do GLOBO. Dos 1077 internautas que participaram de enquete no site, 84,5% disseram não concordar com o presidente, enquanto 14,91% se mostraram a favor, e 0.74% não soube opinar. Até as 18h30m, a reportagem gerou mais de 1.200 comentários de leitores – que chegaram a prescrever óculos para o presidente e lembraram os filmes do cinema mudo, estrelados por Charles Chaplin, para questionar a declaração.

No Rio Grande do Sul, por exemplo, o jornal Zero Hora seguiu o mesmo caminho. A colunista política Rosane de Oliveira escreve em sua coluna desta quarta-feira:

‘A necessidade de ser diplomático com um governador não é suficiente para justificar a declaração do presidente Lula de que, por si só, as imagens de José Roberto Arruda (DEM) e de deputados distritais recebendo dinheiro não significam nada. Se Lula dissesse apenas que todo homem tem direito a julgamento justo e que não se pode prejulgar ninguém sem dar-lhe o direito à ampla defesa, estaria sendo apenas politicamente correto. Ao dizer que as imagens não significam nada, Lula mostrou uma elasticidade preocupante do ponto de vista ético’.

Vejam o vídeo acima e avaliem de que lado está a ‘elasticidade preocupante do ponto de vista ético’.’

 

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