A agência governamental responsável pelo resgate das vítimas do furacão Katrina anunciou na semana passada que não quer que a mídia fotografe o trabalho de remoção dos cadáveres das áreas inundadas de Nova Orleans. A Agência Federal de Gerenciamento de Emergência (Fema, sigla em inglês), que tem sido duramente criticada pela opinião pública pela lentidão no socorro após a passagem do furacão, rejeitou pedidos de jornalistas para acompanhar o trabalho dos barcos no resgate das vítimas. Uma porta-voz afirmou que é preciso espaço nos barcos para o processo de recuperação dos corpos. Ela ressaltou que este processo está sendo tratado com ‘dignidade e respeito’, e completou: ‘nós pedimos que a mídia não tire fotografias dos mortos’.
A atitude da agência foi classificada de censura por observadores da imprensa americanos, que a compararam à decisão do presidente George W. Bush em proibir a divulgação de imagens da chegada dos caixões dos soldados americanos mortos na guerra do Iraque, informa Deborah Zabarenko [Washington Post, 8/9/05].
‘É impossível imaginar como você reporta uma história cujo tema é morte sem permitir que o público veja imagens deste tema’, afirmou Larry Siems, do PEN American Group, organização de escritores em defesa da liberdade de expressão.
Tom Rosenstiel, diretor do Project for Excellence in Journalism, da Universidade de Colúmbia, afirmou que a política da Fema em excluir a imprensa das expedições de recuperação dos mortos é um ‘convite ao caos’, pois não impede – e estimula – que jornalistas, cinegrafistas e fotógrafos se aventurem por conta própria em locais perigosos.
Rebecca Daugherty, do Comitê de Repórteres pela Liberdade de Imprensa, disse que o pedido da Fema é inexplicável. ‘A noção de que a agência perca tempo se preocupando sobre se a qualidade da cobertura jornalística se adequa a seus padrões de gosto é espantosa’, ressaltou ela. ‘Você não pode reportar um desastre e dar ao público uma idéia realista do quão horrível ele é se não mostrar imagens de corpos também’, conclui.
Mas há quem discorde. Para Mark Tapscott, ex-editor do conservador Washington Times que hoje lida com questões de mídia na também conservadora Heritage Foundation, organização de pesquisa e estudos em Washington, a decisão da agência não tem nada de censura. ‘Ninguém quer acordar de manhã e ver a foto de seu tio morto na primeira página do jornal. É questão de decência’, afirmou. Com informações da Reuters [7/9/05].