A venda da Newsweek não foi surpresa – a intenção da Washington Post Company, empresa responsável pelo semanário desde 1961, havia sido anunciada em maio. Para quem acompanha a indústria jornalística americana, o suspense estava por conta de quem seria corajoso o bastante para querer se envolver em um verdadeiro problema. Os números não ajudam. Ao anunciar à redação que colocaria a revista à venda, o presidente da Washington Post, Donald Graham, citou ‘os números’ como motivo: a Newsweek, segundo ele, havia perdido ‘milhões de dólares’ nos últimos anos. O valor ficaria entre 30 e 40 milhões de dólares apenas em 2009. No início desta semana, o anúncio da compra. O novo dono da Newsweek é Sidney Harman, 92 anos completados esta semana, magnata do setor de equipamentos de áudio. Aos 88, ele deixou o posto de executivo-chefe da Harman International Industries, mas continuou a lecionar administração na Universidade do Sul da Califórnia. Casado com a congressista Jane Harman, ele também participa da organização sem fins lucrativos de pesquisa de políticas públicas Aspen Institute, dirigida pelo ex-editor da Time Walter Isaacson, e joga golfe. O processo de venda durou dois meses e meio, e durante este período Graham e o resto do conselho da Washington Post Company rejeitaram potenciais compradores que, acreditavam, mudariam o perfil editorial da revista ou fariam grandes cortes na equipe. De acordo com pessoas próximas à companhia, a oferta de Harman agradou porque ele prometeu manter boa parte dos 325 funcionários. Os detalhes financeiros não foram divulgados, mas há especulações de que o magnata pagaria o valor simbólico de US$ 1 e assumiria as significativas dívidas acumuladas nos últimos anos. Desafio Em uma declaração da Washington Post após o anúncio de compra, Harman afirmou que a Newsweek é um ‘tesouro nacional’ e se disse ansioso para o ‘grande desafio jornalístico, administrativo e tecnológico’ que terá pela frente. Na redação da revista, além da sensação de alívio, também havia ansiedade no início da semana. No mesmo dia da venda, Jon Meacham, editor da Newsweek pelos últimos quatro anos, anunciou sua saída. Disse ter sido um privilégio trabalhar ali, ressaltou a ‘cultura criada e mantida pela família Graham’, e afirmou acreditar que a revista continuará a fazer um bom trabalho. As expectativas de Harman ainda são um mistério. ‘Sempre pareceu claro para mim que a pessoa que comprasse a Newsweek teria uma razão egoísta ou emocional para fazê-lo – que não seria uma decisão puramente de negócios. Porque, se você olhar para os números, simplesmente não faria sentido’, resume o professor de jornalismo Charles Whitaker, da Universidade Nortwestern, citado no blog Media Decoder, do New York Times. Erros e acertos A Newsweek passou por uma reformulação em 2009, quando começou a apostar mais em ensaios e narrativas longas, deixando de lado as notícias quentes. Partindo da ideia de que a revista ‘precisa mais do que dinheiro; precisa de um novo plano’, o site Politico entrevistou funcionários e ex-funcionários, além de especialistas em mídia, para descobrir o que a salvaria. A primeira conclusão é que a reformulação do ano passado foi um erro e que, por isso, a Newsweek deveria esquecer os longos artigos de opinião e voltar às notícias. Há quem defenda que a revista deveria voltar ainda mais no tempo, para quando foi fundada, em 1933, e cumpria a simples missão de fornecer aos leitores um panorama das notícias da semana anterior. Além disso, é preciso ver a internet como prioridade – o que, segundo alguns funcionários, Meacham não fazia – e investir no potencial das redes sociais. Há ainda quem não acredite na sobrevivência da Newsweek – ou das revistas de papel em geral – e ache que não há solução possível. ‘As revistas não podem ser salvas’, sentencia Greg Dworkin, editor do blog político Daily Kos. ‘As pessoas não as leem mais’. Harman, novo no setor, admite que não tem um plano concreto.