Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Ainda sobre os e-mails de Sarah Palin

Quem leu a coluna passada do ombudsman do Washington Post, Patrick Pexton, pode ter pensado que o jornal organizou uma campanha contra a ex-governadora do Alasca Sarah Palin – o que não é verdade, explica Pexton no texto de domingo (18/6). Requisitar a correspondência de políticos é uma das mais antigas ferramentas jornalísticas, diz ele. Repórteres no Post fazem isto o tempo todo – para matérias grandes e pequenas, de agências federais e locais, e de democratas e republicanos.

O Post não buscou dados da ex-governadora no lixo ou em sua vida privada, mas sim dos e-mails oficiais do período em que estava no governo. Eles foram requisitados em 2008, primeiro por eleitores em seu estado, depois pela revista Mother Jones, pelo Post e por outros veículos, quando Sarah foi indicada à disputa pela vice-presidência dos EUA, na chapa do candidato republicano John McCain. Até então, pouco se sabia dela fora do Alasca.

Como o estado tem uma lei bem aberta para divulgação de dados, repórteres e moradores tiraram vantagens disso. Se os registros foram divulgados um pouco tarde, foi porque o governo do Alasca levou três anos para reunir e revisar os e-mails. Nada disso foi atípico. No âmbito federal, muitos pedidos do Ato de Liberdade de Informação levam meses e ou até anos para ser atendidos.

O fato de divulgar os e-mails não foi tendencioso, defende o ombudsman. O Post não solicita e-mails de membros do Congresso porque ele não está sob o Ato de Liberdade de Informação. Os do presidente só podem ser solicitados cinco anos depois de ele deixar o cargo e a maior parte das comunicações fica acessível somente 12 anos depois. A novidade, no caso dos e-mails de Sarah Palin, foi o jornal ter convidado voluntários com conhecimento especial para analisá-los.

Prática cada vez mais comum

O editor de interatividade do Post, Hal Straus, e sua equipe estão ajudando os repórteres do jornal a usar o crowdsourcing – ato de chamar um grupo de pessoas para trabalhar em algo de maneira coletiva e colaborativa – em muitas matérias. “É um modo eficiente para reunir informação. É usar uma tecnologia de massa para fazer o trabalho que pessoas fazem por meio de telefonemas”, explica, reforçando que, na verdade, o crowdsourcing não substitui a apuração convencional; é apenas um aspecto adicional dela.

A experiência com os e-mails de Sarah, no entanto, não foi tão bem-sucedida. Não por falta de interesse – foi grande o número de voluntários dispostos a analisar as 24 mil páginas de documentos. Mas poucos tinham conhecimento específico do Alasca. Os repórteres investigativos e políticos provavelmente sabiam mais sobre a ex-governadora do que os leitores voluntários.