Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Além dos mísseis, a batalha das idéias

A guerra de Israel contra o Hamas, na Faixa de Gaza, é também uma batalha de idéias. Em um desenho postado no YouTube pelo Ministério das Relações Exteriores israelense, são mostrados mísseis atingindo a Torre Eiffel, em Paris, o Big Ben londrino e o Bundestag alemão. A legenda diz, ‘O que você acha disso? Em Sderot [cidade israelense próxima à Faixa de Gaza], as pessoas vivem assim há oito anos’. Além de ressaltar os horrores dos ataques palestinos a Sderot e outras regiões de Israel, a campanha midiática israelense inclui entrevistas de membros do governo a veículos em língua árabe, coletivas de imprensa internacionais quase diárias com a ministra Tzipi Livni e até um canal militar israelense no YouTube.


A campanha de informação contrasta com a reação do governo israelense em 2006, após o bombardeio a alvos do Hezbollah no Líbano. ‘Uma das principais lições que aprendemos é que temos que compartilhar informações o tempo todo e coordenar o que vamos dizer’, diz Yigal Palmor, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores. Desta vez, o objetivo é manter a pressão internacional sob controle o máximo possível, permitindo que o Exército opere sem interferência externa. ‘Este conflito não será resolvido no campo de batalha, mas na mídia’, afirma o professor Gabi Weimann, da Universidade de Haifa. ‘Os dois lados sabem que haverá algum tipo de concessão imposta a eles, então esta não é apenas uma troca de fogo, mas também uma troca de mensagens e imagens’.


Ofir Gendelman, diretor do setor de comunicações do Ministério das Relações Exteriores, diz que concede 15 entrevistas por dia para emissoras de TV e rádio em língua árabe, além de responder a comentários postados no canal no YouTube. Na semana passada, o Ministério realizou uma coletiva de imprensa no Twitter. O governo israelense tem consciência, entretanto, de que a propaganda tem limites. ‘Enquanto eu falo, são mostradas imagens de destruição, de crianças ensangüentadas. A televisão é um meio visual, e quando você fala algo com imagens ao fundo, o público olha as imagens e não ouve o que você diz’, afirma Gendelman.


TV sangrenta


O Hamas, que tomou o controle sobre Gaza em 2007 após confronto com a Autoridade Palestina, também tenta montar sua campanha de informação. O grupo – considerado uma organização terrorista pelos EUA, União Européia e Israel – teve seus vídeos censurados no YouTube e começou a usar um sítio de compartilhamento de vídeos alternativo, chamado AqsaTube.


Na última semana, entretanto, quem tentava acessar a página era redirecionado a um sítio de jogos eletrônicos. Um sítio em inglês coordenado pelas Brigadas de Izzedine al- Qassam, braço militante do Hamas, também não estava sendo atualizado, segundo o professor Weimann, que monitora atividade militante islâmica na internet. Isso ocorre porque, muito provavelmente, os líderes estão escondidos em abrigos antibombas.


Ainda assim, o Hamas se beneficia da repetição incessante de imagens sangrentas transmitidas por emissoras como a al-Jazira, do Catar; al-Manar, dirigida pelo Hezbollah; al-Quds, do Líbano; e a iraniana al-Alam, afirma o cientista político Mukhemer Abu Sada, da Universidade al Azhar, na Cidade de Gaza. ‘Nós vemos crianças na Jordânia colocando faixas verdes do Hamas na cabeça, já que estas emissoras de TV trabalham duro e devotam 24 horas por dia a revelar os crimes de Israel’, analisa.


500 mortos


Israel deu início aos ataques com mísseis na Faixa de Gaza em 27/12. Uma semana antes, o Hamas havia encerrado os seis meses de cessar-fogo entre as duas partes. O grupo militante alega que Israel não fez o suficiente para afrouxar o bloqueio econômico a Gaza, e que por isso não manteria o acordo firmado em junho. Na última semana, a força aérea israelense atingiu mais de 450 alvos do Hamas. Pelo menos 500 palestinos foram mortos e mais de dois mil ficaram feridos desde o início da operação militar, que no fim de semana entrou em uma nova fase, com ofensiva terrestre. Segundo as Nações Unidas, 25% dos palestinos mortos são civis. Três civis israelenses e um soldado morreram. Informações de Gwen Ackerman [Bloomberg, 1/1/09].