Saturday, 28 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Alívio após cinco meses de angústia

No domingo (12/6), uma angustiante contagem da duração do seqüestro de Florence Aubenas e Hussein Hanoun al-Saadi na página inicial do sítio da organização Repórteres Sem Fronteiras trazia o alívio: sobre o número 157, marca dos dias de cativeiro, os avisos ‘libéres’ e ‘released’.

Foram cinco meses de sofrimento para as famílias e amigos da jornalista francesa e do guia iraquiano, capturados em Bagdá no início de janeiro. Os dois haviam sido vistos pela última vez quando saíam do hotel onde Florence estava hospedada na capital iraquiana. Durante este período, o então primeiro-ministro francês Jean-Pierre Raffarin fez diversas declarações públicas confirmando o empenho do governo de seu país em solucionar o caso.

A confirmação de que Florence, que trabalha para o jornal Libération, estava viva veio no início de março, quando foi divulgado um vídeo onde a jornalista, magra e pálida, fazia um pedido de socorro em inglês. Na gravação, não era feita nenhuma referência a al-Saadi.

Campanha online e rumores de resgate

O resgate foi feito no sábado (11/6), mas os detalhes ainda não foram divulgados para a proteção dos reféns. Em um chat realizado pelo Libération na segunda-feira (13/6), o diretor-adjunto do jornal, Patrick Sabatier, respondeu às questões dos internautas sobre a libertação de Florence e Hussein. Segundo ele, o jornal não foi informado se houve o pagamento de um resgate para a soltura. Sabatier acredita que toda especulação ou ‘informação’ sobre possíveis quantias de dinheiro é perigosa e ingênua, pois pode incentivar iraquianos a seqüestrar estrangeiros e tornar cada francês no país um ‘cofre-ambulante, e porque o governo dispõe de outras maneiras de negociações que não são exclusivamente financeiras’. O diretor se referia aos rumores, divulgados pelo jornal italiano Corriere della Sera, de que o governo francês teria pago resgate de 15 milhões de dólares aos seqüestradores.

Nos últimos meses, foi grande a mobilização na internet em solidariedade aos reféns. Logo após a divulgação do fim do seqüestro, muitos internautas deixaram mensagens no sítio dos Repórteres Sem Fronteiras, na página criada pelo Comitê de Apoio a Florence e Hanoun e no fórum online organizado pelo Libération. O jornal publicou também uma versão condensada do diário mantido durante os meses de cativeiro por um grupo na redação responsável por recolher informações sobre o caso, organizar manifestações e tomar decisões necessárias para a resolução do seqüestro.

Outros casos

Outros profissionais da mídia foram seqüestrados no Iraque desde o início da guerra, em 2003. Alguns dos que tiveram maior destaque na imprensa:

** O do italiano Enzo Baldoni, em agosto do ano passado, executado por seus captores, que afirmavam fazer parte de um grupo intitulado Exército Islâmico do Iraque. Eles ordenavam que as tropas italianas deixassem o país.

** O dos franceses Christian Chesnot, da Radio France Internationale, e Georges Malbrunot, do Le Figaro, capturados em agosto de 2004 e libertados quatro meses depois pelo mesmo grupo responsável pelo seqüestro de Baldoni. No caso dos franceses, os captores exigiam que o governo francês voltasse atrás na proibição do uso do véu islâmico nas escolas públicas do país, condição que não foi cumprida.

** O da italiana Giuliana Sgrena, correspondente do jornal de esquerda Il Manifesto, em fevereiro de 2005. A jornalista ficou um mês em cativeiro, e seus seqüestradores também exigiam a saída das tropas italianas do Iraque.

** O dos romenos Eduard Ovidiu Ohanesian, do diário Romania Libera, Marie Jeanne Ion e Sorin Dumitru Miscoci, repórter e cinegrafista, respectivamente, da emissora Prima TV, no fim de março. Os três ficaram quase dois meses sob domínio dos seqüestradores, que se diziam membros da Brigada de Mouadh Ibn Jabal e ordenavam que a Romênia retirasse suas tropas do país.